quinta-feira, 26 de março de 2015

Paz e divisão das Forças Armadas.

Por Horacio Duque Giraldo
Se torna estúpido desconhecer a enorme incidência das conversações de paz entre o governo de Santos e as FARC em Havana sobre o funcionamento do Estado e da sociedade colombiana. Amplos setores da nação dão seu apoio crescente aos diálogos, como o confirmam recentes pesquisas. No entanto, grupos retrógrados de natureza fascista fazem até o impossível para sabotar a Mesa de concertação cujo objetivo é a superação da cruenta guerra civil colombiana.
Sobre essa fratura matriz se projetam outras divisões em diversos âmbitos do país.
As Forças Armadas não são alheias a dita circunstância e as tensões e antagonismos em seu interior são um fato notório.
Há militares guerreireistas de ultra direita, seguidores das fantasias ultramontanas e assassinas de Uribe Vélez, inimigos radicais da paz e adeptos da violência que os clãs oligárquicos do bloco de poder promovem.
Há outros, mais civilizados, respeitosos da constituição e da legalidade, propensos ao diálogo e à solução política do conflito nacional [Herrera Berbel, Padilla, Samudio, Bonet, García Flores, entre outros].
Se trata de um fato saudável, positivo e estimulante, pois é nos aparelhos armados do governo onde elementos tão inescrupulosos e corruptos como o senhor Uribe pescam em águas turbulentas com as mais repugnantes especulações, diatribes e discursos promovidos para induzir à conspiração, ao golpismo e ao bloqueio aos processos de democratização do Estado. Desde que está funcionando a Mesa de conversações em Havana, instalada em outubro de 2012, se conheceram diferentes episódios orquestrados por generais e oficiais para travar e prejudicar seu normal funcionamento. Torturas, seguimentos, provocações, filtração de coordenadas, violação da trégua das FARC, assalto a acampamentos guerrilheiros, assassinatos de chefes das FARC, mentiras e demagogia barata de Pinzón o Min defesa e vinculação descarada com as campanhas da ultra direita têm sido condutas e ações permanentes e abundantes para bloquear a estratégia de diálogos e consensos ao redor da agenda pactuada entre as partes.
O certo é que nas Forças Armadas da oligarquia colombiana, dada a enorme influência que nelas têm as teorias anticomunistas e fascistas da Segurança Nacional, a paz de Havana não é de bom recibo. Muitos generais e outros oficiais vivem da guerra, fazem fortunas e acumulam privilégios com planos bélicos de violência e extermínio dos campesinos, indígenas, grupos populares e militantes da Esquerda. São muitos os militares envolvidos nos “falsos positivos”, em massacres, em desaparecimentos e violações dos direitos humanos. Nada disso tem a ver com a defesa de uma fementida democracia, nada disso tem a ver com o bem-estar da sociedade, nada disso tem a ver com o progresso e a proteção da cidadania, nada disso tem a ver com a defesa da soberania nacional como falsamente o proclama o cavaleiro paramilitar do Ubérrimo e seus medíocres senadores, parlamentários e parlamentárias.
Sendo que nos quartéis, nas brigadas, nos comandos policiais, nos aparelhos de inteligência, na cúpula militar, ferve um ambiente contrário à paz para aniquilá-la, não me parece nada mau que se dê a divisão nas Forças Armadas. É conveniente para o país que venham à luz pública essas divisões. Para os revolucionários e marxistas essa deve ser uma consequência normal da luta por transformar a sociedade num sentido democrático e socialista. Pois, desde sempre, no capitalismo há um impedimento militarista, reacionário e corrupto que envolve milhares de membros do exército, que existem e atuam em função dos grupos oligárquicos minoritários que controlam o regime político e suas instituições. São seus testas de ferro, são os guardiães de suas riquezas e poderes.
Evidentemente que, a estas alturas do processo de paz, já há um núcleo de altos oficiais civilistas, respeitosos da Constituição e do governo que não engolem a manipulação e a grotesca diatribe uribista. São militares profissionais, com um sentido adequado da política, que entenderam que a Colômbia deve sair do campo obscuro da guerra e da destruição violenta da sociedade. São patriotas com outra visão do mundo, tolerantes e pluralistas, partidários das reformas sociais, partidários de uma democracia ampliada e diversa como a que se pactuou, sem esquecer as ressalvas, no documento consensuado sobre a participação política e as garantias aos integrantes das FARC e da resistência campesina revolucionária que se propõem ingressar na vida política normal.
É bom que a Colômbia inteira identifique os inimigos da paz nos institutos armados e escondidos, como diz Otto Morales.
É bom que todos saibamos que há soldados democratas comprometidos com a paz e a superação da guerra e do conflito social armado.
Oxalá que, ao abordar o tema do fim do conflito, a depuração das Forças Armadas permita limpar as instituições militares destas forças retrógradas associadas com a violência e a vulneração permanente dos direitos humanos de milhões de colombianos.
Nota. A podridão da Justiça Pretel é a mesma de todo o Estado liberal oligárquico. Com essa cloaca fedorenta que transpira corrupção por todos os poros, é impossível a paz. Oxalá, ao abordar os ajustes institucionais e as reformas do Estado no ponto do fim do conflito que se tem previsto nos diálogos de Havana, se coloquem as bases de mudanças profundas que ratifique uma Assembleia Constituinte soberana e popular, cuja convocatória e reunião é a cada dia mais urgente. É que o colapso do Estado neoliberal aprofunda a crise orgânica de todo o sistema político das elites encarnadas no senhor Santos e seu contraditor de ocasião, o chefe da parapolítica.
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Equipe ANNCOL - Brasil





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