sábado, 1 de agosto de 2015

Desescalada e contra hegemonia

Por Horacio Duque Giraldo

Desescalada e luta política democrática e transformadora vão juntas. As corruptas maquinarias eleitoreiras/clientelistas do regime santouribista pretendem utilizar a paz para sustentar seus apodrecidos feudos em municípios e estados. Centenas de parapolíticos, de caciques e delinquentes do oficialismo querem se aproveitar da desescalada e da paz em curso para dar continuidade a seus aberrantes monopólios em centenas de localidades e regiões do país. Reputados investigadores como Ariel Avila, com abundantes provas na mão, estão mostrando ao país como os azeitados aparelhos dos “partidos” do regime continuam prevalecendo em Sucre, Santander, Meta, Antioquia, Cauca, Quindio, Guajira, Atlantico, Cordoba, Magdalena e em quase todos os estados da nação.
A desescalada apresenta o desafio de aprofundar a luta contra hegemônica mediante a qualificação da consciência e da organização popular.
O que ocorre na Mesa de diálogos de paz de Havana entre o Estado oligárquico e a representação plenipotenciária da resistência campesina revolucionária é um processo essencialmente político. Sua lógica se inscreve na luta por transformar radicalmente o regime de poder dominante na sociedade colombiana. O oficialismo se move na direção de conservar e prolongar o domínio das redes plutocráticas de poder. É por tal razão que fixou umas linhas vermelhas consideradas intocáveis: modelo neoliberal, forças militares e o regime de representação liberal excludente.
O campo revolucionário da paz projeta mudanças de grande calado para que a mesma se desloque nos âmbitos da justiça, da igualdade, da equidade e da democracia ampliada para as maiorias sociais da nação.
Nesse contexto se metaboliza a desescalada da guerra que estamos presenciando por estes dias. Atenuar a guerra, omitir a beligerância das armas, eliminar o acontecimento bélico e aliviar de maneira consequente o sofrimento coletivo da multidão agrária, como numa antecipação da que será a paz plena conduz a outros momentos da vida política. É a luta, a disputa pelo poder sem a presença da violência que degrada e arruína tudo.
Nesses termos, o que procede é que a luta contra hegemônica das massas se materialize em toda sua essência. Nesse sentido, a contra hegemonia são os elementos e dispositivos organizacionais, comunicacionais e teóricos para a construção da consciência política autônoma nas diversas classes e setores populares. A mesma apresenta os lugares e estágios de disputa na passagem dos interesses particulares para os interesses gerais, como processo político chave para um bloco social alternativo.
Em outros termos, não se pode pretender que o bloco oligárquico seja o que monopolize os recursos do campo político, obstruindo-os, com falsos argumentos, às agências revolucionárias com a tese da incompatibilidade entre resistência armada e o receituário da política liberal.
Colocados numa transição que se orienta com muita certeza para o fim do prolongado conflito nacional, o óbvio é que o sujeito que encarna a resistência campesina intervenha plenamente, sem impedimentos, nem restrições arbitrárias da nenhuma índole, nas ações políticas em curso como é o debate eleitoral para escolher autoridades locais e regionais. Um ponto primordial nesse sentido é a urgente democratização dos meios de comunicação para que estes deixem de ser um recurso exclusivo da hegemonia de reconhecidas aristocracias associadas com as minoritárias elites de dominantes tanto na economia como no Estado.
Criar confiança implica não jogar com cartas marcadas como o fazem as maquinarias eleitorais do regime santista, infestadas de benesses burocráticas, orçamentárias e estratégicas.
Desde logo, ressaltar o eleitoral porque é a prioridade na conjuntura não significa reduzir a política a tal mister, aliás contaminado pela corrupção e pelo clientelismo; há outras manifestações do político que remetem à ação dos movimentos sociais com expressões imediatas como a mobilização pelo direito a saúde, a terra, ao trabalho, a moradia e a educação.

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Equipe ANNCOL - Brasil

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