sábado, 1 de agosto de 2015

Se abre a maior fossa comum urbana do mundo

Escrito por Confidencial Colombia
Luis Javier Laverde chegava a sua casa no bairro Belencito Corazón, da comuna 13 de Medellín, quando o desceram à força do coletivo em que era transportado e subiram-no num carro, supostamente por paramilitares desmobilizados do Bloco Cacique Nutibara.
Isto ocorreu a 9 de dezembro de 2008. Luis Javier era o esposo de Luz Elena Galeano, uma das tantas vítimas que sofreram sob a guerra urbana na cidade da eterna primavera, por conta do narcotráfico, do paramilitarismo e da cumplicidade de um Estado indolente.
Sete anos se passaram e até o momento ninguém lhe deu razão do paradeiro de seu companheiro, o único alento que tem é a esperança de encontrá-lo em La Escombrera, um lugar onde não só se depositam os escombros que a cidade deixa como também é a fossa comum onde jazem centenas de cadáveres, de pessoas que foram vítimas de desaparecimento forçado por parte de paramilitares e estruturas criminais. La Escombrera está localizada nos limites entre a Comuna 13 San Javier e a corregedoria de San Cristóbal, ao ocidente de Medellín.
Como Luis Javier, há um pouco mais de 92 desaparecidos. No entanto, Luz Elena, quem por 13 anos tem sido uma líder e defensora férrea dos direitos das vítimas e porta-voz de Mujeres Caminando por la Verdad [Mulheres Caminhando pela Verdade], assinala que em Terríjenos, zona que também faz parte de La Escombrera, há pelo menos 300 corpos enterrados, pois, com a Operación Orión, utilizaram este lugar para desaparecer a pessoas da Comuna 13.
Historicamente, esta comuna tem sido o corredor rodoviário de narcotráfico, um lugar estratégico para o crime organizado: “chegam pelo norte, pelo ocidente ou pelo sul”, os quais estão dispostos, a todo custo, a encher suas arcas de dinheiro ilegal.
Primeiro a milícia, isto é, frentes urbanas das Farc e do ELN, depois os paramilitares do Bloco Cacique Nutibara, dirigido por Diego Fernando Murillo, vulgo ‘Don Berna’, e finalmente a Força Pública.
Em 16 de outubro de 2002, iniciou a Operación Orión, no marco da política de Segurança Democrática do ex-presidente Álvaro Uribe, que se deu depois de operações como “Operación Mariscal” e “Operación Antorcha”; com aproximadamente três mil homens da Força Pública, do Exército comandados pelo general[r] Mario Montoya, da Polícia Metropolitana de Medellín, liderada pelo general Leonardo Gallego, e do DAS ingressaram na comuna para controlar a zona e arrancar a milícia [FARC e ELN].
Esta operação se deu com o apoio dos paramilitares, uma afirmação que veio logo que vulgo ‘Don Berna’ se acolhera ao processo de Justiça e Paz e revelara que eles [os paramilitares] ajudaram a identificar a colaboradores das milícias e a guerrilheiros.
Ele –o ex-presidente Álvaro Uribe- chegou com a ordem de que tudo o que se movesse, que houvesse nas ruas, fosse exterminado, como se fôssemos quem sabe que coisa. Foi horrível porque nos atacaram por ar e terra e os que fizeram foi a Quarta Brigada do Exército, a Polícia junto com os paramilitares. A Operación Orión foi entre o Estado e o paramilitarismo”, assinala Luz Elena.
Depois de dois dias de enfrentamentos com a população civil em meio ao fogo cruzado, e de que os homens que compunham o Bloco Cacique Nutibara se desmobilizassem em 2003, se deu início a uma série de execuções e desaparecimentos [de pessoas que tivessem algum vínculo com a milícia]. Depoimentos de vítimas, vitimários e autoridades assinalaram que estas pessoas estão em La Escombrera –a maior fosse comum urbana do mundo-.

A esperança
O que esperamos é que haja verdade, justiça, reparação e garantias de não repetição. Oxalá que se encontre os corpos e que façam uma busca integral que desde há muito tempo vimos exigindo. Esperamos que não se continue violando nossos direitos como vítimas”, é a única coisa que querem as 380 vítimas de desaparecimento forçado que compõem a organização Mujeres Caminando por la Verdad.
Hoje, 27 de julho, se inicia o processo de exumação em La Escombrera, o ponto assinalado pelas autoridades é o polígono um denominado a Arenosa. Esta diligência se desenvolverá por cinco meses, no horário de 8:00 a.m. a 4:00 p.m., de segunda a sexta-feira.
O objetivo é extrair 24.000 metros cúbicos de escombros, dos quais 3.000 metros serão retirados por meio de escavação mecânica e o resto se realizará de forma manual para encontrar restos das pessoas que possivelmente foram desaparecidas e enterradas nesta zona.
A Prefeitura de Medellín manifestou que o trabalho se desenvolverá da seguinte maneira: a Promotoria Geral da Nação iniciará a busca, prospecção arqueológica com fins judiciais, e, no caso de achar corpos, se fará a exumação, identificação e entrega de restos.
Ainda que Luz Elena tenha a esperança de encontrar seu esposo em La Escombrera, e crê que é um passo importante para que se faça justiça, exige à Promotoria que faça uma busca integral, isto é, nos polígonos 2 e 3 e em outros lugares de Medellín, já que, segundo ela, não só na comuna 13 há fossas comuns.
Além da exumação, as vítimas exigiram ajuda psicossocial. O Ministério de Saúde estará à frente desta exigência por meio do programa de Atenção Psicossocial e Saúde Integral a Vítimas; além disso, se fará um trabalho de memória que contará com o apoio do Museu Casa da Memória e do Comitê de Ações de Impulso da Comuna 13 com o propósito de construir e visibilizar os processos e relatos de memória.
De outra parte, também se construirá um Mausoléu no Cemitério Universal para levar a cabo o processo de inumação dos corpos no caso de serem encontrados durante o processo de escavação e exumação.
Ainda que a ilusão voltou a aflorar para as vítimas da comuna com este projeto, Luz Elena adverte que o conflito atualmente continua presente. “As barreiras invisíveis continuam existindo; pelo lado da colina, a gente de baixo não pode passar...; há cobro extorsivo de pedágio ao transporte, às lojas”. Também denuncia que é muito complicado, pois está a Força Pública e ela também vulnera os direitos da sociedade civil.
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Equipe ANNCOL - Brasil

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