domingo, 21 de junho de 2015

Nem paz, nem guerra, mas sim todo o contrário: deixar apodrecer a Mesa de Havana

Por Alberto Pinzón Sánchez
O “comunicador social” Ricardo Galán, cuja longa carreira na conformação do “oligopólio midiático contra insurgente” [OMCI] o converteu num dos mais importantes e influentes “spin doctors” da classe dominante colombiana, descreveu em sua última coluna on-line da revista Semana, o desconcerto que deve estar imperando nos sórdidos bastidores do Poder da Colômbia, devido às últimas escaladas do conflito armado.
O colunista, depois de priorizar a conhecida ficção ideológica de que Santos representa a “todo o povo colombiano” [“O desafio das FARC não é contra o governo de Juan Manuel Santos, é contra todos os colombianos”], passa a descrever a incerteza do não saber o que fazer para abandonar com a incapacidade de um “amém” aos fatos militares cumpridos, que os colombianos conhecemos muito bem com a imagem da “rolha no redemoinho”. Escreve assim:
[…] Aceitar o cessar-fogo bilateral significa entregar-lhes uma zona de conforto da qual não vão querer sair. Não só porque poderão continuar se enriquecendo e intercambiando droga por armas e objetos, por se acaso, senão porque desde ali exerceriam um poder muito parecido ao cogoverno. Levantar-se da mesa não parece ser uma opção porque, como bem relembrou o Presidente Juan Manuel Santos, o país aceitou negociar em meio às balas e não resulta coerente romper o processo de paz ante uma onda terrorista por crua, insensata, selvagem e desproporcional que nos possa parecer.
Que caminho escolher? Confesso que me surpreendeu a incapacidade de nossas forças militares e de polícia para reagir ante as últimas selvagerias das Farc. Vejo-as desinformadas, lentas, inseguras, desorientadas. Como se não entendessem qual é o momento e qual é seu papel. A explicação poderia estar na falta de Chefe… E, então, que fazer? Aguentar... O governo, disse o Senhor Presidente, nem se levanta da mesa nem cederá ao cessar-fogo bilateral. As Forças Militares têm a ordem de contra-atacar. Amém”[...]
Versão da qual se lhe podem “delimitar” várias coisas
1 – É uma grave irresponsabilidade histórica e política continuar persistindo contra os ensinamentos da experiência e da história, de maneira torpe e obstinada, na velha ideia oligárquica do século XIX, que tanto dano nos causou e com o qual se desenvolveram as chamadas 9 guerras civis; de que os problemas políticos e sociais em Colômbia têm uma “solução militar”. Crer que contando mortos e cadáveres em bolsas negras [de guerrilheiros e, claro, também de soldados e de “colaterais”] vai levar a uma solução da espantosa problemática social, econômica e política que a Colômbia vive desde há mais de sete décadas, quando a vida e os fatos demonstraram o contrário: que o conflito social e armado colombiano não tem solução militar e sim política. Quantos mortos mais [isso, sim, de colombianos pobres] custará aceitar esta verdade confirmada pelos fatos reais?
2 – Que, precisamente por se tratar de uma imprescindível Solução Política, é necessário que o “chefe militar” reclamado com ansiedade e urgência pelo comunicador Galán, seja melhor um chefe político. E, ainda que sua liderança esteja sendo disputada por seu rival Uribe Vélez, ninguém melhor que o presidente Santos, quem está revestido pela ficção de legalidade e legitimidade pelo aparelho eleitoral oficial da Colômbia e pela Comunidade Internacional.
É a ele quem lhe corresponde tomar as decisões políticas necessárias para avançar na mesa de Havana de onde não se pensa levantar para avançar para a finalização da confrontação, por exemplo, em dois temas essenciais, a justiça bilateral pactuada e a Constituinte.
3 – Porque, do contrário, com essa posição ambígua e típica do liberalismo dominante de “deixar fazer e deixar passar”, o que está se levando é à decomposição e ao apodrecimento do regime [o redemoinho] à mesa de Havana [a rolha] para que se detenha e não flua. Se corrompa. Se acabe.
4 – E, finalmente, entender que a solução ao conflito colombiano é uma situação sócio-histórica e geoestratégica única, irrepetível e incomparável, onde conselheiros salvadorenhos como Villalobos, o salvadorenho assassino do poeta Roque Dalton, ou guatemaltecos, ou nicaragüenses, ou sul-africanos etc. ou de qualquer outro país onde se realizaram outros processos de solução política de conflitos sociais e armados, em outros contextos sócio-históricos e dinâmicas geopolíticas, com outras contradições, e de onde se extraiu o conceito diletante e pouco sustentável do pós-conflito, tem muito que dizer frente ao novo, dinâmico, contraditório e mutável do conflito colombiano.
Que não é, nem deve ser, nem tem porque ser, uma fatalidade o dito por Villalobos [assessor da Inteligência militar Britânica, parte interessada no conflito colombiano] de que a finalização de um conflito é muito sangrenta. Em Colômbia pode não sê-lo se, como disse a direção das FARC, “se deixam de lado as desavenças” e as duas partes avançam rapidamente nos dois pontos essenciais antes mencionados da Justiça bilateral pactuada e a Constituinte. Se supera a abulia e a indecisão presidencial. Se reconstrói a confiança entre as partes e se avança vigorosamente rumo ao final do conflito, como foi o pactado.
Depois, virão, se se quer seguir na moda post, o post-acordo e as novas condições para dar o salto qualitativo, esperado durante tantos anos. Então, nem sequer então se poderá dizer Amem.

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Equipe ANNCOL - Brasil

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