segunda-feira, 15 de junho de 2015

Nunca exigimos cessar-fogos unilaterais, pelo contrário, os declaramos, sim, mais de uma vez.

Por Timoshenko
O doutor Néstor Humberto Martínez concedeu uma entrevista a María Isabel Rueda, na qual expressa com franqueza seus pontos de vista em torno a várias questões relacionadas com o futuro das conversações de paz. Nelas esclarece que se trata de suas posições pessoais, que não comprometem em nada a opinião do governo nacional.
Suas declarações tocam, entre outros assuntos, em temas como a Comissão da Verdade, o referendo e a Assembleia Nacional Constituinte, que têm relação direta com discussões que já fazem parte da Mesa ou o farão chegado o momento, pelo qual prefiro me abster de pronunciamentos públicos. Há algo, sim, que chama sobremaneira a atenção.
Diz o doutor Martínez: “...Porque o que creio, sim, é que haverá paz com Santos e que a paz não deve ser um fator de polarização política e social, e sim um pretexto para o reencontro de todos...”. A respeito disso, não posso menos que expressar a feliz coincidência com o pensamento das FARC. Oxalá fosse possível a paz com Santos e que ela se converta numa autêntica reconciliação de todos.
A fé de nossa organização na possibilidade de alcançar um Acordo Final com o atual governo se mantém inalterável. O processo de paz continua seu avanço, talvez não tão rápido como quiséramos todos, porém com a virtude de sobreviver a circunstâncias muito difíceis. Não é simples reconciliar duas posições diametralmente opostas no que significa a paz.
Porém o fazemos, com diferenças agudas, muitas vezes, sem desanimarmos por isso. Poderíamos dizer que inicialmente os diálogos, o processo mesmo, contava com inimigos abertos. Setores e pessoas que não podiam aceitar que se conversasse de paz e se ensaiasse a via de uma solução pacífica. Inimigos declarados, que não ocultavam sua ideia de massacrar-nos pelas armas.
Que defendiam abertamente a guerra e não aceitavam caminhos distintos. Um dos mais importantes avanços das conversações foi o de encurralar essas posições, até o ponto de convertê-las em vergonhosas. Hoje, parece ter-se alcançado que os amigos da solução cruenta o dissimulem. Opor-se aos diálogos de paz equivale a enterrar-se politicamente.
Ninguém quer ser acusado de inimigo da paz ou dos diálogos. Pelo contrário, o que se impôs é o reconhecimento de sua importância. Agora se professa de estar completamente de acordo com a necessidade de um processo de paz. Do que se trata é de pôr-lhe condições, de apresentar ou exigir que o processo se cumpra dentro de certos marcos. Algo se ganhou.
E se continuará ganhando se conseguimos que comece a reinar um clima de tolerância muito maior, um ambiente realmente favorável à reconciliação. Os colombianos temos que ser capazes de desterrar os ódios. Temos que fazer um grande esforço por ver no inimigo um adversário político, alguém a quem há que reconhecer seu direito a discordar, a quem há que respeitar.
Cremos que os grandes meios de comunicação têm uma responsabilidade muito grande nisso. Nestes dias lemos, à maneira de exemplo, um artigo escrito por Diana Calderón, a quem se apresenta como diretora de Informativos e Hora 20 de Caracol Radio Colômbia. É óbvio que sua posição é a do meio para o qual trabalha. E há que ver o carinho que nos tem.
Sob o título Verdade ou Vingança?, a importante jornalista expõe suas reflexões sobre a comissão criada recentemente na Mesa de Havana. Assegura pertencer aos que estão a favor da negociação e apoiam o processo de paz. Porém, semeia dúvidas, por sua evidente aversão a nós outros, seus enfáticos condicionamentos e as falsidades a que apela.
Que melhor modo de gerar repúdio pelas FARC que continuar nos acusando do caso do collar bomba? Diana Calderón é indubitavelmente uma pessoa informada, que tem que saber que semelhante acusação ficou desmentida pela própria Promotoria. Ademais, ela esteve no Caguán, como apresentadora das audiências públicas, se informou diretamente da verdade.
Precisamente para esclarecer a verdade é que se cria essa comissão. E não creio que ninguém possa negar a preeminência nos grandes meios de comunicação de uma versão do conflito colombiano ajustada por completo aos interesses do poder. Esses meios pertencem a grandes conglomerados empresariais incrustados no Estado, defendem esses interesses, por isso sua parcialidade.
Mal faz Diana Calderón em apresentar-se como uma pessoa alheia ao conflito, um terceiro que desde uma imaculada concepção ética pode pontificar sobre a guerra e a paz, condenar as partes envolvidas numa confrontação que prejudica a Colômbia. Caracol Radio tem suas responsabilidades diretas na guerra, e graves. Não deve pousar de espectador inocente.
Desde a primeira aproximação com o Presidente Juan Manuel Santos, as FARC-EP expressamos que as conversações se desenvolvessem nos marcos de um cessar-fogo bilateral, e todo mundo sabe que essa tem sido outra de nossas inalteráveis posições. Porque a guerra é brutal, produz mortos, feridos, destruição e devastação. Porque incrementa os ódios.
Sempre sustentamos que nunca quisemos esta guerra, que ela nos foi imposta por um regime intolerante e violento. Isso continua sendo certo. Se o Estado colombiano trocasse suas práticas cruentas pela combinação com os destinatários de suas políticas, teríamos um país completamente diferente. É necessário deixar falar e fazer política ao contrário.
Nunca exigimos cessar-fogos unilaterais, pelo contrário, o declaramos, sim, mais de uma vez. A resposta tem sido reiterada, desqualificações, adjetivos de toda índole, aproveitamento de nossa atitude para nos golpear mais forte. Então volta, como agora, a agudizar-se a guerra. Hoje se diz que chantageamos, antes se dizia que faltávamos com a verdade.
A sabotagem econômica é uma medida militar. Qualquer Estado que inicia uma guerra, o primeiro que se propõe é destruir a infraestrutura do rival, bombardeá-la, torná-la ruína. A nós outros nos impõem a guerra, operamos consequentemente. Orientamos, sim, afetar o menos possível a população civil, e proibimos expressamente atentados a serviços de aqueduto e similares.
Recentemente se informou na mídia de um atentado contra o aqueduto de Algeciras, Huila. Estamos investigando. Por enquanto, os mandos responsáveis dessa unidade serão suspensos e, se resultarem comprometidos efetivamente, serão sancionados com severidade por violar uma determinação do Secretariado. Melhor seria que nada disto ocorresse. Essa é a guerra.
Voltamos a insistir, paremos esta guerra. Golpear as forças inimigas produz morte e dor, algo que alguns parecem esquecer quando nos exigem que em vez de atentados à infraestrutura ataquemos a eles. Se pode acordar e firmar um cessar-fogo bilateral desde já. Essa seria a melhor forma de propiciar uma efetiva reconciliação. E, por favor, deixemos tanto veneno e cólera.
Montanhas de Colômbia, 11 de junho de 2015

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Equipe ANNCOL - Brasil

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