sábado, 27 de junho de 2015

Santos não vai ganhar nenhuma guerra em meio à paz.

Por Alberto Pinzón Sánchez
O informe de Human Rights Watch [HRW], tornado público ontem 23.6.2015, sobre a responsabilidade do “generalato” colombiano nos chamados “falsos positivos”, ocorridos durante o governo de Uribe e seu ministro de Defesa JM Santos [fuzilar jovens desempregados ou deficientes físicos vestidos de guerrilheiros para dizer que vai ganhando a guerra e cobrar as recompensas da contagem de corpos ou “body conter”], sem dúvida nenhuma se conhecia há vários meses, pois a informação sobre a qual se baseia está sacada das investigações promovidas desde há anos na promotoria colombiana.
São mais de 3.000 casos sobre os quais há informações sustentadas e declarações que comprometem “massivamente” a 180 batalhões do glorioso exército colombiano; quer dizer, como vimos dizendo desde há décadas, “não são umas quantas maçãs apodrecidas mas todo o pomar de macieiras”, e com o agravante de que seus dois responsáveis diretos e aqueles que deram as ordens, presidente e ministro de Defesa, continuam impunes na Casa de Nariño, protegidos por todas as blindagens legais imagináveis.
Segundo as “superficiais” notas jornalísticas que conseguiram vir a público, o governo dos EUA, primeiro grande implicado, e alguns dos senadores protetores dos militares colombianos conheceram em primeira mão, há meses, o informe, que aparentemente é tão óbvio e evidente que não puderam evitar sua publicação final.
Agora gritam a plenos pulmões acusando a seus protegidos: “!!! Ao ladrão. Esse é o ladrão. Agarrem-no!!!!”
E tudo parece indicar que a saída forçada e contra o mesmíssimo presidente do hercúleo ministério de Defesa Pinzón, quem era a garantia de que ninguém ia se meter com seus dois chefes Uribe e Santos, e sua lenta substituição [para evitar mais surpresas] pelo empresário Villegas, ex-embaixador colombiano em Washington, previamente instruído sobre o que tem e deve fazer com o generalato colombiano, para lavar o sangue do coletivo militar, é uma parte do roteiro anterior.
Porém, já é um pouco tarde, porque com um exército assim de assassino e sem nenhuma moral, por mais tecnologia de última geração, drones e bombas de 250 quilos que tenham para despedaçar guerrilheiros, não vão ganhar nenhuma guerra em Colômbia, nem sequer com o pretexto de querer a paz. Pelo contrário, a cada se afundará mais no pântano da degradação e desmoralização que estamos vendo.
Ficou claro finalmente porque o hercúleo Pinzón atuou como fez: como um “francoatirador sem controle” contra a Mesa de Havana, vazando todo tipo de informação para Uribe com o visto bom de Santos.
Ficou claro que Pinzón não era uma roda solta em toda esta estratégia, para proteger e arrancar a seus dois chefes junto com o generalato e a cúpula militar impunes, ante um possível acordo sobre justiça bilateral em Havana, mas sim o contrário: uma peça mestra da estratégia militarista de negociar em meio à guerra.
Ficou claro porque Santos se apega como “última ratio” [último recurso] a esse modelo militarista viciado e perverso de “negociar em meio à guerra”. Também há luz nas razões pelas quais Uribe [com seus acólitos] insiste em continuar sugando a teta suculenta e oceânica dos dólares americanos que sustentam a guerra contra insurgente “eterna” em Colômbia; pois, enquanto haja guerra, não será possível encontrar a verdade para fazer justiça, ou, dito de outra maneira: a justiça será impossível e a impunidade continuará sendo a lei, como até agora tem sido.
O farol ou blof de Santos de apresentar-se ameaçador e muito poderoso ante seus opositores e inclusive ante seus “amigos de ocasião” como o presidente venezuelano Maduro, finalmente ficou desinflado. Forçou as Farc a suspenderem a trégua unilateral que estas haviam decretado, fazendo saltar em pedaços a meia centena de guerrilheiros, incluído o delegado de Paz Jairo Martínez, para depois sair a se sentir saudoso daqueles meses em que a confrontação diminuiu ostensivamente.
Forçou diplomaticamente o cerco contra o governo legítimo de Venezuela, erguendo o espanhol com passaporte colombiano Felipe González para que fosse desestabilizar o Presidente Maduro, seu “amigo de ocasião”, inclusive enviou um avião oficial destinado à presidência da Colômbia [sem autorização de ninguém] para que fosse arrancar Felipe González sub-repticiamente e às pressas de Caracas, e agora, que Venezuela é agredida e submetida a uma guerra diplomática oriunda da Colômbia, traça soberanamente os limites de sua defesa militar, então manda razõezinhas lacrimejantes para que se jogue para trás o decreto venezuelano.
Por acaso, Uribe não ameaçou com seu poderoso exército e com a guerra a Venezuela de Hugo Chávez, por algo mil vezes menos importante?
Muito simples: o heroico e gigantesco exército colombiano, contrário ao mandato de nosso pai Simón Bolívar, não pode defender a soberania de seu país porque está encharcado em seu interior fuzilando seu próprio povo para fazê-lo passar como inimigo interno ou como guerrilheiro, para cobrar recompensas sobre seus cadáveres.
E por isto o povo humilde o expulsa de seus povoados, como passou ontem em Argelia Cauca. Porque é um exército de ocupação estrangeira, desmoralizado e politicamente arrebentado que já não pode ganhar nenhuma guerra, nem sequer contando com o pretexto da paz, ou tendo às mãos a imensa ajuda militar, tecnológica, econômica e política que lhe dão as 9 bases dos EUA em Colômbia.
Sempre fui muito cuidadoso com os informes de HRW, porém, desta vez, assim como as denúncias sobre a lei do foro militar aprovado recentemente pelo congresso em Colômbia, realmente devo felicitar a seu diretor Vivanco. São dois informes corajosos que são muito bem-vindos na opinião democrática colombiana e um inestimável insumo para encontrar a paz baseada na verdade em nosso martirizado país. Oxalá o escutem e o ponham em prática. Então, haverá motivo para voltar a ser otimista e voltar a crer.

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Equipe ANNCOL - Brasil

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