La
Habana, Cuba, sede dos diálogos de paz, 17 de junho de 2015
Das
poucas coisas certas expressas pelo Chefe de Estado no Fórum de Oslo
sobre processos de paz, está aquilo de que a guerra, como mecanismo
definitório nos conflitos da atualidade, simplesmente se tornou
obsoleta; que não é possível a vitória militar em guerras
assimétricas e que o processo de paz com as FARC oferece uma luz de
esperança num mundo ensombrecido pela guerra.
O
mencionado discurso está infestado de distorções e de mentiras
impiedosas. Colômbia não é o país das maravilhas bosquejado em
Oslo mas sim o terceiro mais desigual do mundo. Não há um processo
sério de restituição de terras; o que, sim, é certo, é que
mataram cerca de 90 reclamantes. Por outro lado, o índice Gini é de
0,87, produto do despojo violento que durante décadas se executou
contra a população rural. Tal despojo se fez mediante assassinatos
e massacres tolerados pelo Estado, os quais ocasionaram o
deslocamento forçado de 6 milhões de compatriotas e o roubo de 8
milhões de hectares no último quarto de século, que ampliaram os
latifúndios dos potentados. Por outro lado, até agosto de 2014 só
se haviam restituído 29.000 hectares aos campesinos.
Quanto
desejaríamos que fosse certo que se está gerando emprego, acabando
com a pobreza, garantindo saúde, educação gratuita e reduzindo o
gasto militar. Bastaria dar um passeio pelos bairros populares do
Bogotá para que, ao ver tanta miséria, se desvaneça essa ilusão.
Infelizmente,
no cenário norueguês voltou Santos sobre a ocorrência de um louco
sionista, Yitzak Rabin, para reiterar que continuará combatendo o
terrorismo, como se não existisse um processo de paz, e que
persistirá na busca da paz como, se não existisse o terrorismo.
Decidiu assim passar por alto que está dialogando em Havana, através
de seus plenipotenciários, com um movimento rebelde que tem uma
proposta viável de país que busca superar a miséria, a
desigualdade e a exclusão política.
Os
pontos de vista do mandatário explicando os acordos parciais de
Havana são uma distorcida posta em cena do pactuado. Por exemplo, na
interpretação da política antidrogas se induz a acusar a
insurgência como a responsável pelo narcotráfico, só para ocultar
o peso específico que tem nesse negócio capitalista internacional a
lavagem de ativos por parte de banqueiros corruptos aos quais não se
lhes persegue, e o envolvimento comprovado do Estado colombiano com a
máfia do narcotráfico nas últimas décadas.
Em
outro plano de ideias e para não nos referir mais, por enquanto, a
essa incoerente difusão do processo de paz na Europa, muitos
organismos internacionais, fóruns e amigos da paz da Colômbia,
entre os quais se encontram representantes da ONU, CELAC, UNASUL,
União Europeia, entre outros, levantaram suas vozes para pedir que
pare a guerra. E mais recentemente os governos de Cuba e Noruega,
como países garantidores, fizeram “um
chamado às partes a que continuem seus esforços para continuar
avançando na discussão das questões pendentes, incluindo a adoção
de um acordo para o cessar bilateral definitivo do fogo e das
hostilidades”.
As
FARC respondemos afirmativamente. Procedamos já.
Com
profundo sentimento de pátria, hoje, desde Havana e desde as
montanhas e bairros humildes da Colômbia, as FARC-EP colocamos de
lado as desavenças e, apesar das incoerências do discurso e das
ações governamentais que o que fazem é incendiar ao país, uma vez
mais nos manifestamos por um acordo de cessar-fogo bilateral que
traga alívio e novas esperanças a nosso povo. Convidamos a depor as
contradições, fazer um ato de profunda reflexão e a tentar um
acordo que pare a confrontação imediatamente, sem continuar
esperando que chegue a firma do acordo final. Quantos
mortos poderíamos evitar e quanta angústia... Quanto mais
poderíamos avançar. Tudo é questão de vontade política.
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