Por Paulo Catatumbo, da Delegação de Paz das
FARC-EP
A coluna de opinião do passado 25 de maio, titulada:
“Sirvió la muerte de Jairo Martínez?”, escrita pelo jornalista
de diretor da revista Semana, Armando Neira, é uma prova clara de
que na Colômbia sim é possível fazer bom jornalismo. (Ver
artículo)
Através de um ameno estilo, tranquilo e respeitoso
da verdade, o autor aborda os últimos acontecimentos da guerra em
Colômbia apresentando com objetividade as posições das partes em
conflito, para encerrar seu escrito fixando uma opinião pessoal e
fazendo uma invitação à reflexão coletiva.
Resulta muito importante esse documento para abordar
a analise da atual crise da Mesa de Conversações, de uma forma
calmada e com cabeça fria.
Excelente o gesto de permitir que a guerrilha fale
através de sua própria voz e não através de informes de
inteligência ou de paulas preestabelecidas.
Trata-se de um bom exemplo para os grandes meios de
comunicação o tratamento sossegado de temas álgidos, cuja
tergiversação pode trazer amargas consequências.
Reconforta ler colunas de opinião como a do
jornalista Neira. Oxalá esse mesmo estilo equânime fosse adotado
nas redações e equipes de trabalho de alguns jornais, programas de
notícias e franjas de opinião e, que lograra substituir essa forma
de opinar e reportar tão ligada às reminiscências setárias da
violência da década de 1950, carregada de estigmatizações e
sanatização do outro (a guerrilha, no presente caso), assumindo
sempre a falta de objetividade como bandeira principal.
Porque a verdade seja dita: é muito difícil avançar
num Processo de Paz quando os grandes meios de comunicação impõem
a difamação como estilo periodístico e prática habitual de
tergiversar a verdade. A consequência: Quando essas visões
distorcidas chegam ao ouvido de milhões de compatriotas, suas
aspirações de paz e de reconciliação desmoronam e a confiança do
país no Processo de Paz perde força.
Coincidimos com Neira (e isso não faz dele um amigo
das FARC-EP nem um aliado do terrorismo). Em que é melhor dialogar
sem o eco das ráfagas e sem ter que chorar os mortos de parte e
parte.
Essa verdade, gigantesca como nenhuma outra, é hoje
uma das maiores dificuldades do Processo de Paz.
Desde o lado insurgente consideramos que um
Cessar-de-fogo bilateral abre as portas definitivas para um Acordo
Final. Um exercício de prospectiva simples assim o demonstra: se de
dezembro de 2014 a maio de 2015 nosso Cessar-de-fogo unilateral
permitiu uma diminuição de 85% das ações da guerra em todo o
país, ¿podemos imaginar o efeito de uns messes de Cessar-de-fogo
bilateral sobre a vida cotidiana e o imaginário colectivo da nação?
Essa perspectiva de
empeçar a converter
a Paz em algo cotidiano para
o país, debe ser acordada
entre as partes dentro do mais breve tempo
possível. Essa será a
melhor maneira de romper o que Neira chama de “el
acuerdo para matarnos a tiros” e
avançar na concreção
de um Acordo
de Paz, que nos permita evitar sacrificar vidas valiosas para o
desenvolvimento do país,
como as de Jairo Martínez, Emiro Jiménez, Román Ruiz, os 11
soldados de Buenos Aires - Cauca e
nossos 40 combatentes caídos
durante a última semana.
--
Equipe ANNCOL - Brasil
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