sexta-feira, 12 de junho de 2015

O Pedro Nel Ospina de Medellín, o batalhão da morte e dos "falsos positivos" em massa.

Por Horacio Duque Giraldo
Ponho à disposição dos leitores de ANNCOL esta horripilante e indignante reportagem da Revista Semana, valente por demais, sobre os criminais atos de 5 oficiais das Forças Armadas Colombianas, sob o mando de Mario Montoya, o General santouribista dos massacres de campesinos, os quais executaram dezenas de “falsos positivos” na cidade de Medellín e no Valle del Aburra, para cobrar as correspondentes recompensas no Ministério de Defesa. Esta é a verdade que a ultra direita militarista não quer que se saiba, a mesma que leva quase 50 anos repetindo-se. A recém criada Comissão da Verdade deverá ir a fundo com todos estes casos ocorridos nos 13 anos de regime santouribista.
A depuração das Forças Armadas e de Polícia, sua reforma, sua reestruturação, é uma tarefa inadiável para poder erradicar a guerra e construir a paz. Com um Exército anticomunista, contra insurgente, orientado pelas Doutrinas gringas da Segurança Nacional, é impossível construir uma paz democrática e com justiça social para todos os colombianos.
Há que dar a conhecer ao mundo estes fatos que continuam se repetindo hoje mesmo nos Planos Orientais, no Cauca, em Nariño, na Costa Pacífica, no Chocó, no Caquetá, em Antioquia, na Guajira, no Catatumbo, no Magdalena Medio, no Quindío, em Risaralda e em Caldas.
O paramilitarismo continua vivo e está atuando mancomunado com o santouribismo para impor prefeitos, vereadores, governadores e deputados nas eleições municipais e regionais do próximo 25 de outubro. Para impedir que a paz chegue, pois com ela se destapam os negócios dos grandes capos das oligarquias regionais e nacionais.
O Batalhão Pedro Nel Ospina de Medellín, o Batalhão da morte.
Num fato inédito na história dos “falsos positivos”, começou o julgamento contra cinco coronéis, toda a cúpula de um mesmo batalhão, acusados de mais de 70 mortes em apenas um ano.
Os coronéis Édgar Ávila e José Zanguña são dois dos cinco a quem a Promotoria acusou por falsos positivos quando estiveram no Batalhão Pedro Nel Ospina. Depois de sair dessa unidade, o primeiro atuou como diretor da Justiça Penal Militar e decano de direito da Universidade Militar.
Desde há poucas semanas vem se desenvolvendo um fato de grande transcendência que tem a ver com um dos períodos mais lúgubres na história recente da Colômbia: os chamados falsos positivos. Em silêncio, e longe da atenção da mídia, estão se desenvolvendo em Medellín e Bogotá as audiências de um julgamento que por suas características se torna inédito.
Pela primeira vez, desde há oito anos, quando explodiu o escândalo de execuções extrajudiciais por parte de integrantes do Exército, toda a cúpula de um mesmo Batalhão, isto é, a totalidade dos oficiais de maior escalão de uma mesma unidade militar, foram acusados pela Promotoria e estão em julgamento pela morte de dezenas de pessoas indefesas. Não se trata de um assunto menor.
Durante os últimos anos os colombianos conheceram os casos e a forma macabra como em diferentes lugares do país alguns militares assassinaram a sangue frio pessoas inocentes, que eram apresentadas como baixas em combate e grandes êxitos operacionais. Por esses fatos há cerca de 3.000 fardados detidos, dos quais 815 já foram condenados. A maioria destes últimos são suboficiais e soldados. Desse número, há tão somente cinco oficiais com o grau de coronéis condenados por essas execuções. Dali a importância do que está ocorrendo. Num só processo a Promotoria demonstrou e imputou a responsabilidade de outros cinco coronéis, o que implica que numa só investigação conseguiu duplicar o número de oficiais desse alto escalão vinculados com faltos positivos.
O caso tem a ver com o Batalhão Pedro Nel Ospina da IV Brigada com sede em Medellín, que opera na comuna 13 e no oriente antioquenho. Os fardados que estão em julgamento desde há dois meses são os coronéis Édgar Ávila, quem era o comandante dessa unidade; José Zanguña Duarte, segundo comandante do batalhão; Diego Padilla, chefe de operações; Raúl Huertas e Carlos Cadena, também de operações. Todos foram detidos entre março e abril deste ano, quando começaram as audiências contra eles, a última das quais ocorreu no passado 8 de maio. Várias dessas diligências se tornaram polêmicas, pois, com diferentes argumentos, alguns juízes não permitiram aos familiares das vítimas presenciá-las. Em outras, os advogados de vários dos implicados ou eles mesmos não se apresentaram, com artimanhas para adiar o julgamento. O que fez diferente este caso dos outros que a Promotoria adiantou por execuções extrajudiciais é que aqueles que agora estão em julgamento não estão sendo processados por fatos isolados e sim por uma cadeia completa de assassinatos que abarcam 72 homicídios num período de tão somente um ano -2006 a 2007-, época em que o comandante do Exército era o general Mario Montoya.
A investigação impulsionada pelo chefe da Unidade de Direitos Humanos da Promotoria, Misael Rodríguez, foi adiantada durante vários anos de forma minuciosa pelo corajoso promotor 57 de Medellín, Luis Fernando Zapata. Ele conseguiu encadear e demonstrar, com depoimentos e provas contundentes, que assassinatos que pareciam isolados em diferentes regiões de Antioquia realmente seguiam um maquiavélico modus operandi do Batalhão Pedro Nel Ospina. Suas pesquisas lhe permitiram imputar e levar a condenações desde as estruturas de menor escalão que participaram nas execuções até chegar aos máximos responsáveis dessa unidade militar.
Como já ocorreu em outros casos de fardados envolvidos em execuções extrajudiciais, o oficial de maior grau que hoje está em julgamento, o coronel Ávila, comandante do Batalhão no período dos acontecimentos, tem uma folha de vida plena de conquistas militares que em seu momento o converteram num dos oficiais mais condecorados, admirados e aprovados pelos altos mandos da época.

A razão era bastante simples
Entre 2006 e 2007, o coronel Ávila conseguiu que seu batalhão ficasse em primeiro lugar de ‘baixas’ entre todas as unidades do Exército em nível nacional. Era a época na qual, no interior dessa instituição, se incentivou e premiou a quem maior número de mortos apresentasse. Nesse momento, a poucos lhes importou e não questionaram como um batalhão de engenheiros, que não era unidade de choque, combate ou de forças especiais, terminasse como o mais eficiente e com o maior número de ‘mortos em combate’.
Graças a suas ‘vitórias’, disparou a carreira militar do coronel Ávila, a de outros coronéis com grau de majores no período dos acontecimentos, e outros subalternos do Batalhão. Ávila não só conseguiu medalhas, reconhecimentos e viagens, como também chegou a ocupar importantes cargos. Em maio de 2009, o ministro de Defesa o nomeou diretor da Justiça Penal Militar [JPM]. Para esse momento, o escândalo dos chamados falsos positivos estava num de seus pontos mais decisivos e, apesar de que muitos dos familiares das vítimas já acusavam e denunciavam Ávila e outros oficiais do Batalhão Pedro Nel Ospina, o governo saiu em defesa do oficial por meio de comunicados de imprensa ante as vozes de protesto que não entendiam como um homem acusado de execuções extrajudiciais podia estar à frente da JPM.
A carreira de Ávila e seus antigos companheiros da época do Batalhão Pedro Nel Ospina continuou sem maiores tropeços durante anos. Após sair da JPM, foi comandante da VIII Brigada no Eixo Cafeteiro entre 2010 e 2011. Dali foi designado adido militar na Embaixada da Colômbia ante o governo do Reino Unido e da Irlanda do Norte com sede em Londres. No seu regresso, foi reformado, segundo informou o Exército a SEMANA. Até há poucos meses foi decano de direito da Universidad Militar Nueva Granada.
Com o que ele nem os outros oficiais que estiveram sob seu mando no polêmico Batalhão de Medellín não contavam é que algum dia a justiça os pegaria, como acaba de ocorrer. Pelo que sucedeu no Pedro Nel Ospina, a Promotoria deteve a mais de 20  militares, vários dos quais já confessaram os homicídios e começaram a contar o que na realidade se passou. Essas colaborações e confissões, que hoje têm ao ex-coronel e ex-decano detrás das grades junto a outros quatro coronéis, simplesmente são escabrosas.
Em várias das audiências públicas que recentemente se desenvolveram contra Ávila e os outros coronéis, a Promotoria mostrou depoimentos e confissões dos próprios autores materiais sobre a forma como assassinaram a quase uma centena de pessoas.

Os casos são aberrantes.
Um destes é o de um campesino detido por um tenente e um soldado do Batalhão, a quem transportavam numa camionete. Quando se dirigiam ao lugar onde seria assassinado, o jovem conseguiu saltar do veículo e caiu por um barranco. Durante toda a noite, o tenente chamou outro grupo de soldados e o buscaram pelo matagal. Um condutor de ônibus que passava pelo lugar disse aos milicos que uns quilômetros atrás um jovem gravemente ferido lhe havia pedido ajuda e lhe contou que iam assassiná-lo. Os militares rapidamente foram ao lugar assinalado e ‘recapturaram’ ao jovem. Levaram-no até a base militar no setor de Alto de Minas. Ali lhe deram comida, banharam-no, lhe trocaram de roupa e mantiveram-no amarrado a uma árvore por todo o dia. Ao cair da noite, montaram-no novamente na camionete e o levaram a uma rodovia, onde lhe mataram.

Outro crime que causou grande impacto durante a audiência foi o assassinato de quatro homens que com enganos foram levados até o Batalhão. Ali os militares os transportaram num carro até uma vereda. Mandaram-lhes correr pela estrada e, aos poucos metros dispararam contra eles. Um dos homens caiu num precipício. Los militares acharam que todos tinham morto, e foram embora. Horas mais tarde chegou ao lugar uma comissão do Batalhão acompanhada de uma juiz militar para verificar “as baixas” produto de “um enfrentamento com a guerrilha”. Mas, para surpresa de todos, o homem que tinha escorregado pelo precipício começou a gritar que estava vivo e a pedir socorro. Sem o mais mínimo sentido de misericórdia, os soldados que pouco tempo atrás tinham disparado contra os homens, se aproximaram do precipício e dispararam de novo até ele morrer. “EU NÃO VI NADA” disse a juiz militar.

Como esses dois crimes há mais 70 que têm sidon expostos nas audiências. O modus operandi do Batalhão foi sempre desse jeito. O combate contra a guerrilha consistia em sequestrar camponeses ou pessoas das fabelas, sumir com elas para regiões isoladas onde as assassinavam, depois colocavam-lhes armas e as reportavam como “guerrilheiros mortos em combate”. Os autores materiais confessaram muitos de esses crimes e têm afirmado que todo Comando do Batalhão, começando pelo Coronel Ávila, sabia e apoiava esse tipo de crimes. Hoje esses cinco Coronéis respondem pelos delitos de homicídio, sequestro e falsidade ideológica em documento público. O caso do Pedro Nel Ospina, o Batalhão da morte, com certeza, seguirá dando muito de quê falar sobre uma das épocas mais obscuras da historia recente do país.



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Equipe ANNCOL - Brasil

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