Por
Horacio Duque Giraldo
Ponho
à disposição dos leitores de ANNCOL esta horripilante e indignante
reportagem da Revista Semana, valente por demais, sobre os criminais
atos de 5 oficiais das Forças Armadas Colombianas, sob o mando de
Mario Montoya, o General santouribista dos massacres de campesinos,
os quais executaram dezenas de “falsos positivos” na cidade de
Medellín e no Valle del Aburra, para cobrar as correspondentes
recompensas no Ministério de Defesa. Esta é a verdade que a ultra
direita militarista não quer que se saiba, a mesma que leva quase 50
anos repetindo-se. A recém criada Comissão da Verdade deverá ir a
fundo com todos estes casos ocorridos nos 13 anos de regime
santouribista.
A
depuração das Forças Armadas e de Polícia, sua reforma, sua
reestruturação, é uma tarefa inadiável para poder erradicar a
guerra e construir a paz. Com um Exército anticomunista, contra
insurgente, orientado pelas Doutrinas gringas da Segurança Nacional,
é impossível construir uma paz democrática e com justiça social
para todos os colombianos.
Há
que dar a conhecer ao mundo estes fatos que continuam se repetindo
hoje mesmo nos Planos Orientais, no Cauca, em Nariño, na Costa
Pacífica, no Chocó, no Caquetá, em Antioquia, na Guajira, no
Catatumbo, no Magdalena Medio, no Quindío, em Risaralda e em Caldas.
O
paramilitarismo continua vivo e está atuando mancomunado com o
santouribismo para impor prefeitos, vereadores, governadores e
deputados nas eleições municipais e regionais do próximo 25 de
outubro. Para impedir que a paz chegue, pois com ela se destapam os
negócios dos grandes capos das oligarquias regionais e nacionais.
O
Batalhão Pedro Nel Ospina de Medellín, o Batalhão da morte.
Num
fato inédito na história dos “falsos positivos”, começou o
julgamento contra cinco coronéis, toda a cúpula de um mesmo
batalhão, acusados de mais de 70 mortes em apenas um ano.
Os
coronéis Édgar Ávila e José Zanguña são dois dos cinco a quem a
Promotoria acusou por falsos positivos quando estiveram no Batalhão
Pedro Nel Ospina. Depois de sair dessa unidade, o primeiro atuou como
diretor da Justiça Penal Militar e decano de direito da Universidade
Militar.
Desde
há poucas semanas vem se desenvolvendo um fato de grande
transcendência que tem a ver com um dos períodos mais lúgubres na
história recente da Colômbia: os chamados falsos positivos. Em
silêncio, e longe da atenção da mídia, estão se desenvolvendo em
Medellín e Bogotá as audiências de um julgamento que por suas
características se torna inédito.
Pela
primeira vez, desde há oito anos, quando explodiu o escândalo de
execuções extrajudiciais por parte de integrantes do Exército,
toda a cúpula de um mesmo Batalhão, isto é, a totalidade dos
oficiais de maior escalão de uma mesma unidade militar, foram
acusados pela Promotoria e estão em julgamento pela morte de dezenas
de pessoas indefesas. Não se trata de um assunto menor.
Durante
os últimos anos os colombianos conheceram os casos e a forma macabra
como em diferentes lugares do país alguns militares assassinaram a
sangue frio pessoas inocentes, que eram apresentadas como baixas em
combate e grandes êxitos operacionais. Por esses fatos há cerca de
3.000 fardados detidos, dos quais 815 já foram condenados. A maioria
destes últimos são suboficiais e soldados. Desse número, há tão
somente cinco oficiais com o grau de coronéis condenados por essas
execuções. Dali a importância do que está ocorrendo. Num só
processo a Promotoria demonstrou e imputou a responsabilidade de
outros cinco coronéis, o que implica que numa só investigação
conseguiu duplicar o número de oficiais desse alto escalão
vinculados com faltos positivos.
O
caso tem a ver com o Batalhão Pedro Nel Ospina da IV Brigada com
sede em Medellín, que opera na comuna 13 e no oriente antioquenho.
Os fardados que estão em julgamento desde há dois meses são os
coronéis Édgar Ávila, quem era o comandante dessa unidade; José
Zanguña Duarte, segundo comandante do batalhão; Diego Padilla,
chefe de operações; Raúl Huertas e Carlos Cadena, também de
operações. Todos foram detidos entre março e abril deste ano,
quando começaram as audiências contra eles, a última das quais
ocorreu no passado 8 de maio. Várias dessas diligências se tornaram
polêmicas, pois, com diferentes argumentos, alguns juízes não
permitiram aos familiares das vítimas presenciá-las. Em outras, os
advogados de vários dos implicados ou eles mesmos não se
apresentaram, com artimanhas para adiar o julgamento. O que fez
diferente este caso dos outros que a Promotoria adiantou por
execuções extrajudiciais é que aqueles que agora estão em
julgamento não estão sendo processados por fatos isolados e sim por
uma cadeia completa de assassinatos que abarcam 72 homicídios num
período de tão somente um ano -2006 a 2007-, época em que o
comandante do Exército era o general Mario Montoya.
A
investigação impulsionada pelo chefe da Unidade de Direitos Humanos
da Promotoria, Misael Rodríguez, foi adiantada durante vários anos
de forma minuciosa pelo corajoso promotor 57 de Medellín, Luis
Fernando Zapata. Ele conseguiu encadear e demonstrar, com depoimentos
e provas contundentes, que assassinatos que pareciam isolados em
diferentes regiões de Antioquia realmente seguiam um maquiavélico
modus operandi do Batalhão Pedro Nel Ospina. Suas pesquisas lhe
permitiram imputar e levar a condenações desde as estruturas de
menor escalão que participaram nas execuções até chegar aos
máximos responsáveis dessa unidade militar.
Como
já ocorreu em outros casos de fardados envolvidos em execuções
extrajudiciais, o oficial de maior grau que hoje está em julgamento,
o coronel Ávila, comandante do Batalhão no período dos
acontecimentos, tem uma folha de vida plena de conquistas militares
que em seu momento o converteram num dos oficiais mais condecorados,
admirados e aprovados pelos altos mandos da época.
A
razão era bastante simples
Entre
2006 e 2007, o coronel Ávila conseguiu que seu batalhão ficasse em
primeiro lugar de ‘baixas’ entre todas as unidades do Exército
em nível nacional. Era a época na qual, no interior dessa
instituição, se incentivou e premiou a quem maior número de mortos
apresentasse. Nesse momento, a poucos lhes importou e não
questionaram como um batalhão de engenheiros, que não era unidade
de choque, combate ou de forças especiais, terminasse como o mais
eficiente e com o maior número de ‘mortos em combate’.
Graças
a suas ‘vitórias’, disparou a carreira militar do coronel Ávila,
a de outros coronéis com grau de majores no período dos
acontecimentos, e outros subalternos do Batalhão. Ávila não só
conseguiu medalhas, reconhecimentos e viagens, como também chegou a
ocupar importantes cargos. Em maio de 2009, o ministro de Defesa o
nomeou diretor da Justiça Penal Militar [JPM]. Para esse momento, o
escândalo dos chamados falsos positivos estava num de seus pontos
mais decisivos e, apesar de que muitos dos familiares das vítimas já
acusavam e denunciavam Ávila e outros oficiais do Batalhão Pedro
Nel Ospina, o governo saiu em defesa do oficial por meio de
comunicados de imprensa ante as vozes de protesto que não entendiam
como um homem acusado de execuções extrajudiciais podia estar à
frente da JPM.
A
carreira de Ávila e seus antigos companheiros da época do Batalhão
Pedro Nel Ospina continuou sem maiores tropeços durante anos. Após
sair da JPM, foi comandante da VIII Brigada no Eixo Cafeteiro entre
2010 e 2011. Dali foi designado adido militar na Embaixada da
Colômbia ante o governo do Reino Unido e da Irlanda do Norte com
sede em Londres. No seu regresso, foi reformado, segundo informou o
Exército a SEMANA. Até há poucos meses foi decano de direito da
Universidad Militar Nueva Granada.
Com
o que ele nem os outros oficiais que estiveram sob seu mando no
polêmico Batalhão de Medellín não contavam é que algum dia a
justiça os pegaria, como acaba de ocorrer. Pelo que sucedeu no Pedro
Nel Ospina, a Promotoria deteve a mais de 20 militares, vários
dos quais já confessaram os homicídios e começaram a contar o que
na realidade se passou. Essas colaborações e confissões, que hoje
têm ao ex-coronel e ex-decano detrás das grades junto a outros
quatro coronéis, simplesmente são escabrosas.
Em
várias das audiências públicas que recentemente se desenvolveram
contra Ávila e os outros coronéis, a Promotoria mostrou depoimentos
e confissões dos próprios autores materiais sobre a forma como
assassinaram a quase uma centena de pessoas.
Os
casos são aberrantes.
Um
destes é o de um campesino detido por um tenente e um soldado do
Batalhão, a quem transportavam numa camionete. Quando se dirigiam ao
lugar onde seria assassinado, o jovem conseguiu saltar do veículo e
caiu por um barranco. Durante toda a noite, o tenente chamou outro
grupo de soldados e o buscaram pelo matagal. Um condutor de ônibus
que passava pelo lugar disse aos milicos que uns quilômetros atrás
um jovem gravemente ferido lhe havia pedido ajuda e lhe contou que
iam assassiná-lo. Os militares rapidamente foram ao lugar assinalado
e ‘recapturaram’ ao jovem. Levaram-no até a base militar no
setor de Alto de Minas. Ali lhe deram comida, banharam-no, lhe
trocaram de roupa e mantiveram-no amarrado a uma árvore por todo o
dia. Ao cair da noite, montaram-no novamente na camionete e o levaram
a uma rodovia, onde lhe mataram.
Outro crime que causou grande impacto durante a audiência foi o assassinato de quatro homens que com enganos foram levados até o Batalhão. Ali os militares os transportaram num carro até uma vereda. Mandaram-lhes correr pela estrada e, aos poucos metros dispararam contra eles. Um dos homens caiu num precipício. Los militares acharam que todos tinham morto, e foram embora. Horas mais tarde chegou ao lugar uma comissão do Batalhão acompanhada de uma juiz militar para verificar “as baixas” produto de “um enfrentamento com a guerrilha”. Mas, para surpresa de todos, o homem que tinha escorregado pelo precipício começou a gritar que estava vivo e a pedir socorro. Sem o mais mínimo sentido de misericórdia, os soldados que pouco tempo atrás tinham disparado contra os homens, se aproximaram do precipício e dispararam de novo até ele morrer. “EU NÃO VI NADA” disse a juiz militar.
Como
esses
dois
crimes
há mais 70 que têm sidon expostos
nas
audiências.
O
modus operandi do
Batalhão
foi
sempre desse jeito.
O
combate contra a guerrilha consistia em sequestrar camponeses ou
pessoas das fabelas, sumir com elas para regiões isoladas onde as
assassinavam, depois colocavam-lhes armas e as reportavam como
“guerrilheiros mortos em combate”.
Os
autores materiais
já
confessaram
muitos
de esses
crimes
e têm afirmado que todo Comando do Batalhão, começando pelo
Coronel Ávila, sabia e apoiava esse tipo de crimes.
Hoje
esses cinco
Coronéis
respondem
pelos delitos de homicídio, sequestro e falsidade ideológica em
documento público.
O
caso do
Pedro Nel Ospina, o
Batalhão
da morte,
com
certeza,
seguirá
dando muito
de quê
falar
sobre uma
das épocas mais
obscuras
da
historia recente do
país.
--
Equipe
ANNCOL - Brasil
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