domingo, 21 de dezembro de 2014

A trégua começa a partir de 20 de dezembro

Recebemos com satisfação as reações construtivas da grande opinião pública referentes a nossa decisão de cessar hostilidades de maneira unilateral e por tempo indeterminado com vigilância nacional e internacional como gesto de desescalada do conflito. Medimos a reação imediata do Presidente Santos como uma maneira de ir se acercando ao tema, não obstante seu aparente questionamento a uma medida eminentemente altruísta e necessária que nenhuma pessoa sensata poderia rechaçar, muito menos condenar. Cabe anotar que nossa decisão não é o presente de uma rosa cheia de espinhos, mas sim um gesto pleno de humanidade em resposta ao clamor generalizado das vítimas do conflito e da expectativa nacional.
Com a manifestação da Frente Ampla pela Paz de aceitação da verificação, a trégua começa a partir de 20 de dezembro. Convidamos o doutor Santos a que encontre em nossa determinação a avaliação sem golpes que fazemos da vida humana e da concórdia. Se combatemos por mais de cinquenta anos, o fizemos carregados de razões, que cremos podem ser atendidas e resolvidas no encontro que vimos atendendo com representantes de seu governo, da sociedade e das vítimas, na ilha de Martí. Nas últimas horas, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, informou ao mundo que, após o fracasso do bloqueio a Cuba nos campos comercial, econômico e financeiro, procedia a normalizar as relações diplomáticas apesar de décadas de discrepâncias; com a adição da libertação recíproca de prisioneiros. Só medidas próprias de um mundo civilizado têm vigência para solucionar conflitos nunca resolvidos. Obama deu a entender à sua maneira.
Tomamos este exemplo de decisão e determinação criadora, que o povo de Cuba ainda celebra com euforia e patriotismo, para chamar a atenção de sua consciência, Presidente Santos, para que encontre nos avanços conquistados na mesa de diálogo de Havana razões suficientes para depor as armas que, após tantos anos de violência, só ameaçam derramar mais sangue de iguais. Já é hora de entender que um soldado da Colômbia não é diferente de um guerrilheiro de qualquer lugar do mapa da pátria. Sirva-se, então, senhor Presidente, acolher sem reticências a cessação de fogos e hostilidades oferecida; não se interponha ao anseio de um povo que quer conhecer o seu país sem o estrondo das bombas e das metralhadoras. Se o país mais poderoso do mundo não conseguiu subjugar a alma cubana, a segunda força militar do continente, ainda que dotada com tecnologia militar de ponta, tampouco poderá vencer a rebeldia dos que empunhamos as armas contra um regime injusto. Os colombianos só temos um caminho: a solução política do conflito, o diálogo civilizado para combinar mudanças estruturais, que, ao ampliar a democracia e propiciar um bom viver, nos permitam inaugurar uma longa era de paz e convivência.
Lhe pedimos, senhor Presidente, que se erga, olhe o horizonte, e descubra o novo amanhã. Lhe convidamos a que acredite em você mesmo; algo que, sem dúvida, é necessário para culminar o processo já iniciado. Marchemos todos juntos para o futuro acompanhados de tírios e troianos, com amigos e adversários, com verdes, azuis, vermelhos e amarelos, os povos indígenas, as comunidades afro, as igrejas, e as bandeiras brancas da pátria, com as mulheres, com a população LGTBI, com as donas de casa, os trabalhadores e trabalhadoras, sindicatos, empresários, docentes e estudantes, soldados, campesinos, comerciantes; com os cidadãos humildes, todos ao mesmo tempo, para rechaçar a morte e conquistar a vida em igualdade, democracia e justiça no sentido mais amplo e completo de seu significado. Que o passo que demos com o anúncio registrado a 17 de dezembro não se manche com sangue. Não há orgulho institucional que o justifique, nem razão de Estado que valha o suficiente como para não permitir que nossas armas se silenciem.

19 de dezembro de 2014.
Secretariado do Estado-Maior Central das FARC-EP


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Equipe ANNCOL - Brasil

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