De
preferência, que tenha menos de quarenta e cinco anos. Se recomenda
ar suave, jovial, ativo e alegre. Se é bonito e/ou atraente, muito
melhor. Obrigatório: de aspecto saudável. A boa aparência é
fundamental nestes tempos de aparência. Uma acertada forma de vestir
casual também ajuda.
Elegância
e simplicidade simultaneamente é um tandem ideal. Cabelo curto,
porém bem abundante; sem barba nem muito gorducho. Não pode ser
agressivo nem impulsivo. Quanto menos confronte, mais vale.
Forçosamente, há de ser bom estudante; sempre disposto a tirar um
“notável” em cada exame; não importa que não seja brilhante
nem extraordinário, o verdadeiramente substantivo é assegurar-se
sempre uma nota digna em cada prova. Se roga que seja altamente
disciplinado e sem tentações a sair do roteiro. Quanto menos
improvise, muito melhor.
Não
convém excesso de verborragia; se prefere alguém de palavra
afinada. Não há que preocupar-se pela destreza, sabedoria e
capacidade política. Estas virtudes não constituem necessariamente
um requisito imprescindível. Quanto mais oco seja, quanto menos
hábito e experiência política, muito melhor. Tudo se aprende e
tudo se amolda nas técnicas de marketing político em moda nos mais
conhecidos centros de pensamento [ainda que deveriam chamar-se de
pose e postura]. Segundo esse manual, a política é melhor se se
limita a uma questão de assessores de imagem.
Este
padrão comum responde ao novo curriculum vitae exigido para ser
aspirante a ganhar eleições frente aos projetos pós-neoliberais no
século XXI. Se trata do novo candidato buscado na América Latina
para derrocar nas urnas aos presidentes que continuam revalidando seu
apoio eleitoral em cada contenda.
Em
Venezuela, Chávez ganhou quatro vezes consecutivas a disputa
presidencial [1998, 2000, 2006, 2013] e Maduro uma; na Argentina, os
Kirchner venceram também em três ocasiões sucessivas [2003, 2007,
2011]; no Brasil, Lula ganhou duas vezes [2002, 2006] e Dilma outras
duas mais [2010, 2014]; no Equador, Correa também conquistou três
vitórias sucessivas [2006, 2009, 2013]; no Uruguai, a Frente Ampla
[com Tabaré Vásquez e Pepe Mujica] ganhou três [2004, 2009, 2014].
Visto o visto, a oposição na região só conseguiu mudar de
representação política mediante golpes antidemocráticos tanto em
Honduras como no Paraguai; até o momento, nunca pela via eleitoral.
Parece
que não é nada fácil disputar a hegemonia eleitoral contra estas
lideranças que conduzem processos que conseguiram pôr ponto final
às décadas perdidas do neoliberalismo com base numa nova política.
Nenhuma performance eleitoral opositora conseguiu acertar com a tecla
oportuna para contra-arrestar o apoio majoritário que existe em cada
processo de transformação.
Apesar
de que continuam legitimamente ensaiando, a tentativa de restauração
conservadora é simplesmente isso, um intento que não resulta eficaz
no propósito de virar a página para trás. Nem Capriles, Marina
Silva, Aécio Neves, Doria Medina, Mauricio Rodas [que, ainda que
ganhou eleições em Quito, perdeu um ano antes as presidenciais],
nem Lacalle Pou sabem como se pode ganhar eleições presidenciais na
América Latina.
Se
bem que seja certo que melhoraram em muitos casos em votos obtidos,
também isto pode ser devido em parte ao desgaste dos partidos depois
de levar tantos anos na gestão governamental. Ainda que falta por
ver si esse mesmo perfil na Argentina com Massa têm êxito, parece
que até o momento não encontram a tática precisa para desbancar
aos processos que conquistaram muito a favor da maioria social em
termos de condições de vida.
A
melhor entre todas as imagens possíveis não pode competir com
processos reais que, apesar de suas contradições e erros, fizeram
com que esta década seja ganha para muitas questões cotidianas
básicas no bom viver cidadão. Cada processo com suas
particularidades, uns procurando mais um aperfeiçoamento na
totalidade e outros com reformas parciais, cada um deles conseguiu
reduzir pobreza e desigualdade, eliminar exclusão política,
cultural, social e econômica, melhorar o emprego e o salário real,
melhorar a capacidade aquisitiva em forma inclusiva, garantir o
acesso público e gratuito à educação e saúde, facilitar melhores
opões em termos de moradia, solucionar o acesso a serviços básicos
e, algo que não é menos importante, recuperar o sentido de
soberania e de sentir-se orgulhoso de pertencer a um projeto de país.
É
por isso que o iniciado desde finais do século passado na América
Latina não pode ser unicamente concebido como uma mudança de ciclo
eleitoral, é verdadeiramente uma mudança de ciclo político que
constitui uma mudança de época pós-neoliberal. Precisamente é
isto, a mudança de sentido comum o que obriga a oposição a se
esforçar muito na preparação de seu candidato, que deve jogar
agora numa cancha adversária na qual já não pode afirmar
alegremente acerca dos cortes sociais nem da austeridade, nem planos
de ajuste nem nada semelhante, nem falar de excesso de gasto social.
Nesta
nova hegemonia pós-neoliberal –ainda em construção- reside
realmente a dificuldade que a direita regional tem de recolocar-se
como opção convincente para ser respaldada pela maioria popular.
Esta crescente complexidade está começando a desquiciar uma
oposição cada vez menos monolítica, derivando numa alta gama de
opções e estratégias diferentes.
Por
um lado, está o setor empresarial das grandes corporações, que não
sabe se confronta e põe em xeque aos atuais governos ou nada e
guarda a roupa, porque sabem que provavelmente também se darão bem
com estes processos de mudança se souberem aproveitar as melhorias
internas, aceitando que já não podem ser eles os tomadores de
decisão política. Por outro lado, os meios privados de comunicação
dominantes não cessam de entender que seu passado glorioso já
passou, e que nos últimos anos as novas lideranças conseguiram
desconectar certo fusível de tal modo que agora elas se comunicam
diretamente com o povo, sem necessidade de tanta intermediação.
E
mais, seguem empenhados no relato do passado que não convence nem a
maioria nem aos próprios candidatos opositores. Continuam com uma
narrativa obsoleta, mais própria das décadas dos oitenta e noventa,
crendo que falar de investimento estrangeiro, dos mitos do mercado,
ou do livre comércio é rentável eleitoralmente, apesar dos
resultados eleitorais continuarem lhes contradizendo. Dizer que tudo
está mal quando tudo não está mal tampouco soa como a melhor
música eleita para convencer aos que devem votar. Uma capa ou
manchete midiática aguenta tudo, porém o que não tem é força
para rivalizar com a melhora realmente produzida no aspecto mais
cotidiano da pessoa que deve acorrer a emitir seu voto.
Esta
dissociação, entre boa parte do discurso midiático dominante e as
novas propostas eleitorais da oposição, é um handicap adicionado
nesta árdua tarefa de conseguir ganhar uma contenda eleitoral. No
que, sim, há acordo é em torno do núcleo de outras demandas:
corrupção, insegurança e inflação. Isto é fator comum em quase
todos os países. Certamente, estes são problemas a deter, porém,
no que se confunde a oposição é em crer que estes por si sós
podem obscurecer plenamente os avanços econômicos e sociais
alcançados pelos novos processos de mudança.
É
certamente verdade que há muitos problemas da herança neoliberal
ainda por resolver, ainda que, indubitavelmente, o mais importante
recai no aparecimento de novas perguntas a responder segundo as
arrefecidas demandas próprias desta mudança de época, de um povo
que agora já desfruta de outro nível de vida e exige mais e melhor.
Eis aqui, realmente, o cavalo de Troia desta década em disputa na
América Latina.
Este
é o desafio no interior dos próprios projetos de transformação,
circundar virtuosamente para o futuro as contínuas contradições
que aparecem em cada processo acelerado de transformação, ao mesmo
tempo em que se consiga reinventar novos desafios para adiante.
Enquanto a oposição acredita que os problemas do hoje se resolvem
com propostas e discurso do ontem, ou simplesmente com uma boa posta
em cena com um candidato da era da pós política [tecnocrático],
enquanto suceda um e/ou outro, continuarão sem ganhar eleições, a
não ser que os governos atuais se equivoquem demasiadamente.
Como
diria Evo Morales, “ganhar eleições é muito simples”, se trata
de fazer aquilo que convém a cada povo, ainda que a isso lhe chamem
populismo. Enquanto isso, a oposição, a partidária e a que não,
segue buscando o candidato ideal para ganhar a próxima competição
eleitoral.
Fonte:
teleSUR
Tradução:
Joaquim Lisboa Neto
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