terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Colômbia: Teatro de operações ou teatro do absurdo?

Por Alberto Pinzón Sánchez
A captura do general Alzate no domingo 16 de novembro de 2014, perto da corregedoria Las Mercedes sobre o rio Atrato, no “teatro de operações” da força-tarefa contra guerrilheira Titán do exército colombiano no Chocó, os fatos posteriores como a suspensão dos diálogos de paz de Havana por parte do presidente JM Santos, a gigantesca operação militar para resgatar o general, sua libertação com foto e tudo, a leitura obrigada de uma autoinculpação acompanhada de sua renúncia com seus 33 anos de mando e experiência de guerra contra insurgente, o secretismo e ocultamento com que todo o ministério de defesa dirigido pelo “militar de civil” Juan Carlos Pinzón manejou todos estes incidentes.
As inumeráveis versões que tentaram responder [obviamente sem êxito] a pergunta elementar que se fazem milhões de pessoas tanto em colômbia como no resto do globo terrestre sobre o que fazia um general dessas características e dessa importância militar, só, de short e chinelos, acompanhado de uma atraente companheira de trabalho e dois espantados guarda-costas, quilômetros abaixo de seu bunker oficial e numa pequena canoa artesanal de madeira que os chocoanos chamam “panga”?
Versões que podem ser sintetizadas em duas: Uma, que se encontrava fazendo um negócio “irregular” [não se sabe com certeza qual], se de ouro, se de coca, ou muito íntimo e pessoal e foi “delatado” por algum concorrente dos organismos militares e de inteligência dos quais o mesmo general citou em sua carta de renúncia. E outra, que dá crédito à versão de que se encontrava fazendo uma supervisão pessoal em terreno de uma multimilionária ação cívico-militar numas miseráveis e segregadas comunidades afro-indígenas chocoanas.
Acontecimentos todos apresentados nas notícias oficiais, numa cascata de irracionalidade e falta de lógica. De uma inaudita incongruência e incoerência entre os fatos ocorridos e as ideias ou frases com as quais querem se explicar; beirando NÃO na esquizofrenia, que é uma enfermidade mental altamente perturbadora, senão que em algo concebido a propósito pelo alto governo de JM Santos e seu executor militar Mindefesa Pinzón, com o fim de continuar introduzindo na mentalidade dos colombianos e na consciência social estropiada pelos 70 anos de conflito a tão antiga matriz midiática de manipulação massiva [que tantos benefícios tem dado à sua classe social] da incredulidade cidadã e o ceticismo sobre os diálogos que conduzam à paz com a insurgência e sobretudo para reforçar a ansiedade altamente manipulável que produz o estar girando sem sentido num “círculo vicioso” que não leva a nada, na qual vimos nos debatendo e matando entre irmãos durante todas estas décadas de pesadelo sem esperança, para o benefício econômico dos pescadores em águas turvas.
Uns diálogos de paz, conduzidos pelo Estado colombiano com regras de ferro “supostamente” muito racionais, impostas à sua Contraparte guerrilheira, para burlá-las na primeira oportunidade. Diálogos que por este acúmulo de incoerências não poderão conduzir a uma verdadeira comunicação humana, senão que muito mais à “incomunicação dialogada” que se está vendo: A incredulidade, a desconfiança e a suspicácia, ao distanciamento mútuo e a uma nova frustração preparada e longamente anunciada pela imprensa do senhor presidente; como quando insiste com outra de suas famosas regras ilógicas: “Nada está firmado até que tudo esteja firmado”, em lugar de ir avançando em acordos parciais firmes como, por exemplo, um armistício bilateral.
Depois de concluída a segunda guerra mundial e durante a chamada “pós-guerra”, um grupo de escritores e dramaturgos, principalmente europeus, atormentados com a barbárie que acabavam de viver e com o temor ou a ansiedade produzidos pela ameaça de um holocausto nuclear absurdo [razão fundamental da chamada guerra fria], ao descrever todos estes medos, temores e ansiedades irracionais e levá-los à cena, deram origem ao que posteriormente a literatura global denominou de “o teatro do absurdo”.
Pois bem, hoje a Colômbia está vivendo um espetáculo do absurdo com atores do disparate, como se fora mais uma obra daquele teatro do absurdo, no qual, como numa tresnoitada ironia, nos meteu o governo de Santos e sua ferramenta Pinzón, com todas as suas incongruências e absurdidades, mentiras irracionais e ocultamentos hipócritas e ilógicos, sabendo de antemão que por esse caminho falso e oposto à verdade não se vai a nenhuma parte. Talvez ao vazio existencial do “nada” prefigurado de antemão nas advertências presidenciais permanentes e insistentes de que “se se rompem os diálogos de paz de Havana não acontece nada, pois seguimos nas mesmas”...
Já em Colômbia, a pomba branca símbolo da paz foi substituída por um short e um par de chinelos, acompanhados da absurda gargalhada dos espectadores da obra de teatro iniciada.
Sairão Santos-Pinzón com a sua de anunciar aos colombianos que vamos seguir nas mesmas? Ou conseguirá o povo colombiano impor [com sua ação de massas, obviamente] a necessidade histórica objetiva de conquistar a tão ansiada Paz com justiça social, democracia e soberania que tantos mortos nos custaram até agora?
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