terça-feira, 28 de abril de 2015

As mulheres, a guerra e a paz


Por Rubin Morro
Integrante da Delegação de Paz das FARC-EP
As mulheres sempre estiveram na luta política e nas vitórias dos povos pela emancipação, justiça e liberdade. Sua presença tem sido permanente no protagonismo social, político, cultural e econômico, ainda que seu reconhecimento e visibilidade nessa grande empreitada tem sido ofuscada, inclusive excluída do desfrute das conquistas, por padrões patriarcais existentes.
Pelo contrário, continuam em sua vida cotidiana com o duplo papel, a dupla jornada de trabalho. Constitui esta uma das facetas mais excludentes e impositivas que tem levado a mulher à mais horrível exploração e discriminação.
É um odioso e profundo empecilho que temos os humanos levado por milhares de anos arrastando como uma pesada carga, é uma enfermidade terminal que devemos combater com uma nova concepção da vida e das relações entre as pessoas, sem importar nossa condição de classe, raça, credo, sexo e outras realidades diversas de identidade.
Como se fosse pouco, se lhes destinou especificamente a reprodução, os trabalhos domésticos; e na vida trabalhista se lhes recompensa com um salário que está abaixo do que pagam aos homens por cumprir o mesmo trabalho. No entanto, apesar da existência de normas legais para vinculá-la ao processo produtivo, depois de fazê-lo, terminam em responsabilidades secundárias, impondo-se o homem acima dela, exclusivamente por sua condição masculina.
As guerras convencionais e os conflitos internos fizeram das mulheres suas principais vítimas: foram assassinadas, deslocadas, ameaçadas, são milhares as viúvas e órfãs; milhões as que padeceram de violências de todas as maneiras e tipos possíveis.
Em meio a semelhante adversidade, as mulheres continuam construindo seus sonhos e desejos, através de suas lutas pela igualdade de gênero e social, pela conquista plena de seus direitos, pelo reconhecimento como sujeitos sociais e políticos. Daí seu protagonismo no processo de paz que se desenvolve em Havana.
Porque é claro que em Colômbia não haverá paz sem o concurso criador e massivo da mulher, sem sua participação ativa. A inclusão das mulheres em todas as etapas de construção da paz é um requisito essencial para a sustentação da mesma.
Um informe da ONU assinala que em processos de paz, desde 1992 até a presente data, a participação das mulheres tem sido baixa; no entanto, nestes processos a violência sexual contra elas tem sido referenciada no debate. Na década de 1990, na República de El Salvador na Mesa de Negociação com a Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional [FMLN], as mulheres propuseram um plano de reparação.
Na Irlanda do Norte, as mulheres asseguraram a participação de uma representante na Mesa de paz criada em 1997, ao constituir uma agrupação política de mulheres de distintos partidos que participou na reconciliação e reintegração dos presos políticos. Na República da África do Sul, em meados da década de 1990, a Comissão Nacional da Mulher pediu que a metade dos multipartidaristas fossem mulheres, e conseguiu com que um de cada dois representantes de cada partido também fosse uma mulher, participantes no processo de negociação.
Na República de Guatemala, as mulheres influíram de maneira significativa nas conversações que conduziram ao acordo de paz de 1996. Em Asha Hagi Elmi constituiu o Sexto Clã de mulheres na República da Somália nas conversações de paz onde se havia excluído as mulheres. Em Burundi, as mulheres apresentaram sua lista de recomendações ao facilitador das negociações, Nelson Mandela, e mais da metade das referidas propostas ficaram recolhidas no acordo de paz.
É apenas uma mostra dos esforços que as mulheres fizeram por alcançar seu espaço na sociedade, por serem ativas construtoras de paz.
Em 26 de agosto de 2012, o Governo e as FARC-EP firmaram um “Acordo Geral para a terminação do conflito e a construção de uma paz estável e duradoura”. Cabe aqui relembrar que nos recentes processos de paz levados a cabo em Colômbia as mulheres não foram incluídas como deveriam ser; no entanto, na Delegação de Paz das FARC-EP quase a metade são mulheres e nas instâncias da Mesa de Conversações em Havana se criou a Subcomissão de Gênero para dar um enfoque de gênero aos acordos, para dialogar com representantes de organizações de mulheres, das quais marcaram presença 16 lideranças e 2 representantes da comunidade LGBTI. As conclusões das três audiências realizadas serão recolhidas e levadas em conta nos acordos pactuados a partir da perspectiva de gênero.
Definitivamente, devemos tod@s, sem exceção, desenvolver uma campanha de visibilidade, reconhecimento do papel e dos direitos das mulheres, com medidas afirmativas temporais, enquanto isso seja necessário, que permitam alcançar a igualdade de gênero. Deve ser um compromisso dos homens junto a elas avançar neste necessário e urgente objetivo de vida e de esperança para o futuro da sociedade.

Tradução: Joaquim Lisboa Neto

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Equipe ANNCOL - Brasil

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