domingo, 19 de abril de 2015

Santos ordena bombardear a paz. O caso Santo Domingo/Arauca.

Por Horacio Duque Giraldo

Criminal e desesperada a ordem santista de bombardear e destruir o processo de paz. Se repetirão casos como o de Santo Domingo/Arauca.
Por causa dos trágicos fatos de guerra ocorridos numa operação defensiva do território na vereda La Esperanza do município de Buenos Aires, Cauca, o senhor Santos, chefe da Casa de Nariño, deu a cruel ordem de reiniciar os bombardeios aéreos em todo o território nacional.
Se trata de uma fatal determinação, típica de quem atua como um jogador de pôquer para sacar vantagens politiqueiras, que terá sérias e imediatas consequências na cruenta guerra civil da qual padece a sociedade colombiana há mais de 50 anos.
Esta decisão vai ter duras repercussões no processo de desescalada do conflito que havia avançado consistentemente com a trégua unilateral ordenada desde Dezembro/2014 pelas Farc, com os pactos em matéria de desminado e as decisões quanto a menores combatentes.
Quer dizer que os diálogos exigirão mais tempo e calma para determinar de maneira muito precisa os compromissos governamentais com a implementação efetiva das reformas e mudanças democráticas, sociais e políticas adotadas via consenso.
Falar de datas para a firma de um Acordo Final não é um disparate liberal ou radical, só que se deve considerar que uma parte cronológica [e não ontológica, como deveria ser] depende do avanço real nos temas estabelecidos na Agenda e da vontade real do governo de tornar efetiva a paz com justiça social e democracia ampliada, que é ao que se nega a oligarquia plutocrática que o senhor Santos e seu gabinete de tecnocratas representam.
O governo e sua cúpula dirigente mantêm uma posição irredutível de não tocar no modelo neoliberal e impor sua democracia clientelista e mercantil. Ao que se agrega a sabotagem estrutural à paz por parte dos generais e militares adeptos do fascismo contra insurgente e anticomunista de Uribe Vélez e da ultra direita latifundiária, com o consentimento santista.
O uso da infraestrutura da Força Aérea no conflito terá consequências desastrosas. É como usar gasolina para apagar um incêndio.
Em anos recentes, a ação dos veículos aéreos para desdobrar enfrentamentos de guerra foi sangrenta. Basta recordar o caso da vereda Santo Domingo/Arauca.
Como é bem sabido, no município de Tame está situada a corregedoria de Santo Domingo, e ambos fazem parte do estado de Arauca. A 13 de dezembro de 1998, depois das dez e meia da manhã, quando se celebrava por uma humilde comunidade campesina uma feira com atividades desportivas e culturais, um avião fantasma das FAC [Forças Armadas da colômbia] e um “número não determinado” de aviões e helicópteros de guerra bombardearam o povoado; um ‘dispositivo cluster’ explodiu sobre um caminhão, causando a tragédia.
De tal “façanha militar” resultaram mortas 17 pessoas, entre adultos e menores de idade. Os sobreviventes tiveram que abandonar o povoado durante 17 dias, tempo em que o Exército permaneceu na área junto a grupos paramilitares dos narcos Mellizos Mejía, as casas da população civil foram abusivamente violentadas, se registraram invasões ilegais e foram saqueados seus comércios, destruídos seus bens, furtados seus dinheiros e joias, e as galinhas de propriedade da população civil foram consumidas pelos soldados.
As autoridades negaram o ocorrido; “não existia clareza sobre os fatos em que se apresentou o enfrentamento”, disseram, indicando ademais que os aviões das FAC haviam chegado até o município devido a “um operativo militar conjunto entre o Exército Nacional e a Força Aérea para combater a guerrilha das Farc na área geral de Tame. Se expediram as ordens RELÂMPAGO II, PANTERA E PANTERA I”.
Os familiares das vítimas processaram o Estado indicando que a Força Pública, desde a data do massacre, utilizou procedimentos falsos e obstruiu e prolongou as diversas investigações adiantadas pelos fatos que foram julgados posteriormente, quando foi evidente que o ocorrido se tratou de um massacre; destacando, ademais, que a prova documental fornecida pelas FAC era incoerente e incongruente e evidencia os erros táticos e estratégicos em que a Força Aérea incorreu, o que se repetiu ao longo dos últimos anos em muitos casos e vai se repetir agora com esta demencial ordem.
Por esses fatos, o Conselho de Estado ordenou às FAC pagar aos familiares das 17 pessoas, entre elas 6 menores de idade, pelo massacre de Santo Domingo, um total de $ 1.125 milhões de pesos.
Um adido militar, Coronel Sergio Andrés Garzón, regressou da França para responder pelo ataque criminoso a Santo Domingo/Arauca.
A decisão de ordenar a captura dos oficiais das FAC comprometidos no magnicídio foi adotada por uma fiscal de Direitos Humanos e Direito Internacional Humanitário [DIH], quem acusou ao Coronel Sergio Andrés Garzón e ao major Germán David Lamilla como coautores do concurso homogêneo de 17 homicídios com dolo eventual.
Pelo mesmo fato também foram condenados a 30 anos de prisão, cada um, o capitão César Romero e o tenente Johan Jiménez, os quais pilotavam o helicóptero que lançou o artefato explosivo.
Fatal e delirante a ordem de Santos. Põe novamente a rodar uma infernal máquina de morte integrada por quase 14 mil efetivos, 300 aeronaves de combate que está sob a condução do Gal. Guillermo León León.
Morrerão campesinos, anciãos, mulheres, crianças, animais e se destruirão espaços de trabalho das comunidades.
Absurda decisão que se coloca na contramão do que observamos recentemente na Cúpula do Panamá, espaço que permitiu, depois de 50 anos de equivocações e perversidades gringas, a aproximação entre Obama e Cuba, sem que a pequena nação caribenha renunciasse a suas políticas revolucionárias e socialistas. Obama reconheceu os erros de seu país e se mostrou disposto a corrigir.
Aqui, pelo contrário, a elite oligárquica dominante se nega a reconhecer seus erros e persevera na violência estatal contra as classes populares e as massas campesinas para continuar favorecendo a riqueza e o poder de grupos minoritários que dominam o Estado em todos os seus níveis.
Em vez de bombardeios, o que a paz com justiça social exige é um cessar do fogo e de hostilidades bilateral e permanente. O que a paz exige é mais democracia ampliada e vigência dos direitos políticos, garantindo que a liberdade impere nos meios de comunicação, monopolizados por grupos empenhados em mentir e intoxicar a sociedade com mentiras e traições.
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Equipe ANNCOL - Brasil

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