quinta-feira, 9 de abril de 2015

Deixem fazer a Paz!

Por Carlos Antonio Lozada, Integrante do Secretariado das FARC-EP
Não são casuais as coincidências nos pronunciamentos do uribismo, o Procurador e o General ® Jaime Ruiz Barrera, Presidente de ACORE, contra o processo de Havana. Coincidências não só na linguagem como também no fato de apelar para a mentira e a falsificação da realidade para sustentar a investida contra os diálogos de paz.
“Claudicação frente ao terrorismo”, “desmoralização das Forças Armadas”, “acordos secretos”, “incremento dos ataques terroristas e da insegurança” etc. são parte dos bordões utilizados para confundir a opinião incauta dos colombianos, buscando criar medo e rechaço ao processo de Havana; o que, por sua vez, lhes permite camuflar seus inconfessáveis propósitos sob sonoras frases de aparente patriotismo e defesa dos sagrados interesses da nação.
Uma tática, baseada em claros propósitos casuístas dirigida a gerar emoções antes que raciocínios. A manipulação como recurso para obter o apoio a umas teses contrárias ao anseio majoritário dos colombianos de paz com justiça social.
O objetivo estratégico que buscam é fazer abortar o processo; ou em seu dano, se finalmente este consegue se consolidar, sem renunciar nunca ao propósito principal, tratar de incidir para que os conteúdos dos acordos alcançados não afetem de maneira significativa os interesses econômicos, políticos e sociais que representam.
Para ninguém é um segredo que a Agenda acordada em Havana busca desatar os principais nós que mantêm a Colômbia amarrada à concentração da terra e à marginalidade do campo, ao distanciamento abismal entre a vida urbana e rural; ao clientelismo político e à corrupção, à hegemonia política e ideológica de uma minoria autoritária, ligada por seus interesses ao grande capital transnacional.
Manter sem modificar por longo tempo esse estado de coisas, apesar dos desejos majoritários de mudança e da emergência de forças sociais e políticas que lutam por melhoras na sociedade colombiana só tem sido possível graças ao exercício sistemático da violência estatal e paraestatal por parte das elites dominantes.
O acima exposto é o que explica a origem e a persistência do conflito armado colombiano e lhe dá sua conotação econômica, política e social. Nesse sentido é ilustrativo o informe da Comissão Histórica do Conflito e suas Vítimas e é o que permite entender, por sua vez, porque certos setores da classe dominante se assustam com a perspectiva de um cessar do conflito armado que implique algumas mudanças no mundo rural e uma mínima abertura no sistema político. A conclusão é simples: Sem a guerra veem seus dias contados.
Durante os 8 anos que estiveram no poder, os setores que hoje se opõem ao processo não pouparam esforços, meios nem recursos para tratar de massacrar a resistência armada e a inconformidade civil. Como nunca antes, se uniram sob uma só vontade a classe dominante e todo o poder do Estado; ao que somaram o apoio dos EUA e a estratégia paramilitar; numa verdadeira orgia de sangue contra o povo colombiano; sem que tivessem conseguido derrotar os anseios de mudança que se aninham na alma colombiana, como não foi possível fazê-lo durante mais de 50 anos.
A conclusão é clara: Já que não puderam resolver o conflito por meio de uma guerra sem quartel, então deixem fazer a paz.
O que está em jogo é o futuro do país; enfrentar o grupo de guerreiristas é uma prioridade política que obriga por igual a todos os que vemos possível gestionar as diferenças que nos separam, pela via da confrontação democrática de ideias e de alternativas políticas. 
A culminação exitosa dos diálogos de paz não é só competência do Governo e das FARC-EP; é uma tarefa histórica de toda Colômbia. Nesse sentido são estimulantes as mobilizações que se anunciam em respaldo ao processo, porém não são suficientes. A paz, temos que conquistá-la, e esse objetivo requer a composição da mais ampla frente de unidade política, sem distinções de partido, classe social, credo religioso, etnia para poder encurralar este grupo minoritário, porém poderoso, que se empenha em manter-nos submersos no pântano da guerra.

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Equipe ANNCOL - Brasil

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