quarta-feira, 29 de abril de 2015

Balanço do processo de paz de La Habana.

Santos y Uribe, que são a mesma coisa, cada um com suas bravatas, ameaças e intrigas, querem chantagear a Mesa de Paz de Havana e a plenipotenciária da resistência campesina para impor a paz dos vencidos, da injustiça social, do massacre, das masmorras e das tumbas neoliberais. Querem meter medo. Pretendem que prevaleça seu apodrecido regime oligárquico. Santos nunca mais. Uribe nunca mais.
Os combates próprios do prolongado conflito social e armado, ocorridos na semana anterior no Norte do Cauca, onde ocorreram cruentos enfrentamentos entre os atores em combate [contraguerrilha anticomunista e guerrilha revolucionária]; e, simultaneamente, os cruéis massacres de indígenas executados por grupos paramilitares, acompanhantes das forças contra insurgentes das brigadas militares Apolo do governo de Santos, perfilaram uma “conjuntura crítica”, uma encruzilhada política, que nos indica, novamente, a clausura de um ciclo histórico e a abertura de outro, na qual as ações e omissões dos sujeitos resultam tendo espaços e possibilidades de remontar condicionamentos estruturais e cujo desenlace terá importantes consequências de médio e longo prazo no cenário político nacional, como a necessária convocatória de uma Assembleia Nacional Constituinte.
Não é demais reiterá-lo, os graves acontecimentos de guerra ocorridos no município de Buenos Aires são a direta consequência da estratégia oficial de negociar o fim do conflito em meio à guerra. Mais pontualmente, do disparate santista elaborado pelo sionismo israelense de conversar em Havana ignorando a guerra nacional e continuar a guerra como se em Cuba não ocorresse nada. Um verdadeiro ex abrupto liberal que se elaborou como artimanha para levar vantagens e impor os enfoques do bloco oligárquico dominante que se empenha numa paz com injustiça social e democracia neoliberal.
Tentemos um balanço do processo de paz de Havana que se abriu desde o ano de 2011 com aproximações e conversações reservadas entre as Farc e Santos.
Primeiro. A Mesa de Conversações de Havana foi o resultado da constante potência militar e política, desdobrada pelas Farc e demais grupos insurgentes desde fins de 2007, que colocou na defensiva o bloco dominante da oligarquia, obrigando-a a descartar sua estratégia de guerra final e de extermínio absoluto da resistência campesina e popular.
Segundo. O Acordo especial para a terminação do conflito e a Agenda temática refletiu a correlação de forças existente em seu momento. O preâmbulo, as regras do jogo, a organização da mesa, o papel dos garantidores internacionais, os temas e o mecanismo constituinte de referenda resumiam plenamente a força e capacidade acumulada pelo movimento popular e a guerrilha.
Terceiro. Em plena globalização, o cenário cubano se torno ótimo para a delegação plenipotenciária das Farc, pois o ambiente agradável dos diálogos permitiu o pleno exercício do conhecimento, da inteligência, epistemologia e sabedoria que se emanam da estratégia revolucionária socialista. Nada de pressões e armadilhas dos trapaceiros oficiais, acostumados a jogar com cartas marcadas. Transcendental que o contexto de Cuba socialista fosse o espaço da Mesa, pois o exemplo das conquistas populares tem sido um estímulo crucial ao papel histórico das massas populares colombianas.
Quarto. Três acordos em assuntos cruciais: terra, democracia ampliada e cultivos de uso ilícito são indicadores da seriedade com que se desenvolveram os diálogos. Da mesma maneira, consensos em temas como o desminado e a desescalada do conflito, pactuados entre comandantes guerrilheiros e oficiais do exército são provas contundentes dos avanços da Mesa de Havana.
Quinto. A trégua unilateral determinada pelas Farc, desde novembro de 2014, mostrou ao país a vontade de avançar na superação da guerra. Nunca antes se havia dado um fato desse nível e os efeitos estão à vista com a diminuição substancial da violência.
Sexto. Santos não foi recíproco e seu aparelho militar prosseguiu as ações ofensivas assassinando líderes guerrilheiros, assaltando acampamentos, desaparecendo militantes populares e promovendo e instalando novos grupos paramilitares por todo o território nacional. Em Colômbia, diz J. A. Gutiérrez, todo o tempo se bombardeia acampamentos guerrilheiros em meio ao sono, mesmo em meio a tréguas unilaterais da insurgência; se arranca campesinos de suas camas, com sacos na cabeça, para em seguida dar sumiço neles, torturá-los, ou assassiná-los e apresentá-los como guerrilheiros “mortos em combate”; se dá sistematicamente tratamento de guerra ao protesto popular, como o demonstra o recente caso do norte do Cauca.
Sétimo. A sabotagem, com o jogo duplo santista do Min uribista Pinzón, ao processo de paz foi uma constante durante os últimos 30 meses. Uribe Vélez construiu uma corrente militarista que envolve generais, oficiais e paramilitares, para bloquear e estigmatizar os diálogos. Para mudar a correlação de forças a seu favor. Altos oficiais, com o consentimento presidencial e ministerial, têm danificado, infiltrado, desqualificado e macartizado a saída negociada ao conflito. Desse jogo fazem parte os dois delegados militares em Havana. O mais recente episódio nesse sentido foi a confusão de Rangel Mora, quem, prática, terminou deslocando De La Calle e Jaramillo como chefes do grupo. Foi uma espécie de “golpe suave” à paz, em cumplicidade com os porta-vozes jornalísticos e da Acore do uribismo.
Oitavo. Como o modelo neoliberal não se negocia, segundo a determinação de Santos, até o momento o governo não se comprometeu em nada que possa afetar seu regime social e o das multinacionais. Pelo contrário, a Casa de Nariño tem seguido adiante com sua agenda neodesenvolvimentista, embutida no Plano Nacional de Desenvolvimento que reúne descaradamente o receituário neoliberal da OCDE e demais organismos multilaterais como o FMI e o Banco Mundial.
Nono. O funcionamento da Mesa de Diálogos tem sido um descomunal pivô da luta popular e da ação coletiva. As grandes ações campesinas de 2013, 2014 e as que se desdobrarão a partir do próximo 22 de abril recebem o estímulo da potência emancipadora da resistência campesina revolucionária. Surgiram novas subjetividades associadas com a paz e grandes mobilizações, ligadas à memória histórica, enriqueceram o espaço público democrático. No entanto, o processo de paz e a luta pelas mudanças exigem uma ação direta, no quente, dos movimentos sociais, com suas reivindicações e exigências. Os desfiles e marchas simbólicas não podem substituir o alcance radical das ações como as dos indígenas do Cauca, os levantamentos operários, as greves estatais, os bloqueios de rodovias, as paralisações de professores e as greves campesinas. O levantamento popular deve chegar a novos níveis de ação política evitando, claro está, a claudicação e conciliação das Mesas que terminaram subsumidas no transformismo ministerial da revolução passiva de terceira via do senhor Santos e seus assessores agrícolas.
Décimo. A mercê dos diálogos de paz, o Polo Democrático ressurgiu do abismo em que o haviam colocado em Bogotá. Clara López e Ainda Abella, com a bandeira da reconciliação e da terminação da guerra, receberam o respaldo de mais de 2 milhões de colombianos, que nelas votaram com entusiasmo e independência como candidatas nas eleições presidenciais de 2014. Estas duas líderes, junto ao senador Ivan Cepeda, alcançaram a envergadura de verdadeiras referências progressistas, com enormes potenciais para conduzir um grande movimento de mudanças nos meses vindouros, particularmente nas próximas eleições de autoridades locais infiltradas desde já pela corrupção e pelo clientelismo da partidocracia sistêmica. A Mesa de paz de Havana terá uma grande influência no processo político de 25 de outubro.
Em igual sentido, os referidos líderes terão um papel destacado na Assembleia Constituinte pela paz que terá que se convocar para sair da enorme crise orgânica e sistêmica que agita ao regime político dominante.
Onze. Os meios de comunicação e a denominada opinião pública predeterminada por estes têm sido e continuam sendo um obstáculo perverso para o processo. As grandes máquinas midiáticas refletem e reproduzem os interesses de reconhecidos oligarcas como Sarmiento Angulo [El Tiempo], família Santo Domingo [El Espectador], Grupo Prisa de Espanha [Caracol], Ardida Lule [RCN e NTN24], família Santos [Revista Semana] e os monopólios imobiliários regionais [Vanguarda Liberal, El Heraldo etc], família Lloreda [El País], paramilitarismo do estado de Antioquia [El Colombiano, El Mundo], que fazem uma sabotagem sistemática, com mentiras e tóxicos, à Mesa de Havana.
Os pseudo analistas políticos, os e as [como certa filósofa] colunistas de opinião, favorecidos com salários e cheques de seus eminentes patrões, constroem sofismas e narrativas arbitrárias para impor a cosmovisão das classes dominantes acérrimas inimigas de qualquer mudança democrática na vetusta sociedade colombiana.
Doze. A recente Cúpula do Panamá constituiu um importante apoio ao processo de Havana, pois registrou o triunfo da Cuba socialista e do bloco anti-imperialista latino-americano liderado pela Venezuela Bolivariana e chavista. Obama, representante de um império em retirada a mercê do contrapoder geopolítico oriental, teve que admitir os erros, arbitrariedades e equívocos cometidos contra o povo cubano durante mais de 60 anos. É o que Santos não viu, não leu, nem escutou, pois, como representante do bloco contra insurgente do poder oligárquico, continua com a mesma mentalidade violenta de há 60 anos. Este tipo ficou na guerra fria, no anticomunismo selvagem, no ódio ao povo, no domínio clientelista, na mesma corrupção.
Treze. A paz só pode avançar se se dá uma mudança profunda nos aparelhos militares e de inteligência do governo. Se os generais anticomunistas continuam com sua sabotagem traiçoeira à Mesa de Havana, o término das conversações terá muito mais complicações e obstáculos.
Quatorze. A paz express, a desesperada enteléquia santista, com datas pontuais é uma falácia governamental que pretende entreter o verdadeiro debate para chegar a um consenso definitivo.
Quinze. A paz não será uma realidade se Santos pretende resolver a atual grave crise econômica ocasionada pela queda dos preços do barril de petróleo, afetando as condições sociais de milhões de colombianos mergulhados na pobreza. Que os ricos paguem a crise, não os frágeis da sociedade.
Dezesseis. A agenda política da delegação revolucionária em Havana faz parte de uma estratégia revolucionária para derrubar o regime oligárquico imperante no Estado. Faz parte da luta pela democracia avançada, pelo socialismo e pelo fim da sociedade mercantil neoliberal.
Dezessete. Há que manter a firmeza frente às fanfarronadas de Santos e seu compadre Uribe Vélez. Os revolucionários não vacilam nem se deixam intimidar. A oligarquia é covarde, não tem boa-fé nem vontade de paz no sentido puro do termo.
Se a oligarquia quer 100 anos mais de guerra, guerra popular prolongada terão. Foram 500 anos de guerra colonial, de violência contra os indígenas, contra os escravos afro, contra os campesinos e os operários e a luta se mantém. Essa é a grande lição de Cuba, a de Venezuela e a do restante dos povos de nosso continente.
Dezoito. Santos nunca mais!!! Uribe Vélez nunca mais!!!!! Oligarquia putrefata e assassina nunca mais!!!!!

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Equipe ANNCOL - Brasil

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