domingo, 19 de abril de 2015

As seis datas da infame história colombiana

Por Alberto Pinzón

Os informes da Comissão Histórica apresentados na Mesa de Havana em fevereiro de 2015, ademais das outras três conclusões que mencionei anteriormente como essenciais, 1) a participação precoce do Imperialismo norte-americano na história da Colômbia e sua conversão num “fator interno” do chamado conflito colombiano, 2) a transformação daquela Oligarquia [terra-tenente e financeira transnacionalizada] num complexo e poderoso Bloco de Poder Contra Insurgente Dominante [BPCID]* do qual formam parte essencial os EUA, e 3) que o componente Social deste conflito está baseado em dois [2] grandes problemas estruturais nunca resolvidos e, portanto, em crise permanente: um, o chamado “assunto agrário” enraizado na época colonial espanhola, e outro “a modernização capitalista até sua total transnacionalização com o Narcotráfico porém sem modernidade”, isto é, sem as reformas correspondentes na supra estrutura da sociedade, atualmente manifestadas nas crises judicial, política, ideológica e moral que abalam o país.
Os referidos informes também permitem extrair uma quarta conclusão: que o chamado conflito colombiano, à parte de ser social e armado, igualmente é “histórico”, o qual se pode perceber, sumariamente, nas seis [6] datas históricas que são feridas abertas e sangrantes na memória do povo colombiano. Vejamos:
  • O 25 de setembro de 1828, ou noite setembrina, quando o cacique cucutenho F. P. Santander, aglutinador da fração “livre-cambista” daquela oligarquia terra-tenente e escravista, que emergia como classe dominante decide eliminar o Libertador e destruir seu projeto anfictiônico, submergindo a sociedade colombiana no pesadelo sectário de nove [9] guerras civis bipartidaristas até 1902, quando conclui a chamada guerra dos mil dias e se torna possível a segunda data da infâmia.
  • 3 de novembro de 1903, quando o governo de Theodore Roosevelt “toma o Panamá”, durante o governo conservador do decrépito M. M. Marroquín, amputando do corpo colombiano esta província para cumprir sua promessa imperial, e que para maior infâmia paga US$ 25 milhões em cômodas cotas de US$ 5 milhões, as quais chegam a Bogotá em 1922 [durante o governo conservador de Jorge Holguín, o avô da atual chanceler] e se inicia a avalanche da dança dos milhões com seu conto da prosperidade ao endividamento do desenvolvimento capitalista moderno, e que leva à terceira data da infâmia.



  • 6 de dezembro de 1928, o massacre das bananeiras, durante o governo conservador do advogado de várias companhias estadunidenses Abadía Méndez, quando o general Cortés Vargas, a mando do gerente da “Yunai” [United Fruit Company] Mr. Thomas Bradshaw, fuzila a mais de três mil [3.000] trabalhadores “bananeiros”. Esta realidade romanceada é fácil de ser lida em Cem anos de solidão, livro desfrutado especialmente pelo ex-presidente estadunidense Bill Clinton, grande amigo do povo colombiano.
Denunciado esta data, quando “a oligarquia que tem o joelho trêmulo em terra ante o amo ianque e empresta a metralhadora homicida para os filhos da pátria”, Jorge Eliécer Gaitán inicia seu caminho como formidável dirigente popular que o levaria à tumba e à quarta data da infâmia.



  • 9 de abril de 1948, hoje faz 67 anos, quando o governo ultraconservador antioquenho Mariano Ospina Pérez, em cumprimento do mandado anticomunista da guerra fria imposto pelo governo dos EUA, agentes estadunidenses [cujos nomes são RESERVA nos arquivos oficiais dos EUA] e detetives colombianos executam a J. E. Gaitán em Bogotá; se desencadeia a ira popular do bogotazo e se oficializa a violência sectária contra os liberais noveabrilenhos e comunistas, que conduz à quinta data da infâmia.



  • 18 de maio de 1964, sob o governo conservador do putanheiro cacique caucano Guillermo León Valencia; quando se executa o Plan LASO [Latin American Security Operation] e se estrutura formalmente o mencionado Bloco de Poder Contra Insurgente Dominante [BPCID] e 16.000 soldados colombianos, aerotransportados em helicópteros estadunidenses, sob a direção estratégica de oficiais estadunidenses, e o comando direto de tenentes “coreanos” do exército colombiano, bombardeiam e tomam militarmente a aldeia de Marquetalia, com aviões estadunidenses e bombas estadunidenses de napalm estadunidense, e onde [para maior infâmia] só estavam 48 campesinos comunistas com suas famílias. Se inaugura assim a guerra suja contra insurgente que tornará realidade a sexta data da infâmia.



  • 11 de outubro de 1987, sob o governo do amnésico Liberal Virgilio Barco, quando agentes do Bloco de Poder Contra Insurgente Dominante [BPCID] executam ao candidato presidencial da União Patriótica Jaime Pardo Leal por suas críticas à aliança contra insurgente do exército oficial com narcotraficantes e paramilitares, e se “formaliza ou oficializa” o terrível genocídio de 5.000 quadros da União Patriótica, denominado no jargão militarista imperante de “Plan Baile Rojo” [Plano Baile Vermelho].



Lapidário: Relembrar e comemorar permanentemente estas seis datas da infame história colombiana, que por falta de tempo o mestre Eduardo Galeano não conseguiu incluir em seu último volume das Memórias do Fogo, é a melhor maneira de mantê-lo presente e combatendo, como a Ele agradava ser e estar.
* Conceito ampliado no capítulo 4 [páginas 219-268] do livro de Vilma Liliana Franco, Orden contrainsurgente y dominación. Instituto Popular de Capacitación. Medellín, 2009.
Fonte: imagem Confidencialcolombia.com


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Equipe ANNCOL - Brasil





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