Por Alberto Pinzón
Os informes da Comissão Histórica apresentados na Mesa de Havana em fevereiro de 2015, ademais das outras três conclusões que mencionei anteriormente como essenciais, 1) a participação precoce do Imperialismo norte-americano na história da Colômbia e sua conversão num “fator interno” do chamado conflito colombiano, 2) a transformação daquela Oligarquia [terra-tenente e financeira transnacionalizada] num complexo e poderoso Bloco de Poder Contra Insurgente Dominante [BPCID]* do qual formam parte essencial os EUA, e 3) que o componente Social deste conflito está baseado em dois [2] grandes problemas estruturais nunca resolvidos e, portanto, em crise permanente: um, o chamado “assunto agrário” enraizado na época colonial espanhola, e outro “a modernização capitalista até sua total transnacionalização com o Narcotráfico porém sem modernidade”, isto é, sem as reformas correspondentes na supra estrutura da sociedade, atualmente manifestadas nas crises judicial, política, ideológica e moral que abalam o país.
Os referidos informes também permitem extrair uma quarta conclusão: que o chamado conflito colombiano, à parte de ser social e armado, igualmente é “histórico”, o qual se pode perceber, sumariamente, nas seis [6] datas históricas que são feridas abertas e sangrantes na memória do povo colombiano. Vejamos:
- O 25 de setembro de 1828, ou noite setembrina, quando o cacique cucutenho F. P. Santander, aglutinador da fração “livre-cambista” daquela oligarquia terra-tenente e escravista, que emergia como classe dominante decide eliminar o Libertador e destruir seu projeto anfictiônico, submergindo a sociedade colombiana no pesadelo sectário de nove [9] guerras civis bipartidaristas até 1902, quando conclui a chamada guerra dos mil dias e se torna possível a segunda data da infâmia.
- 3 de novembro de 1903, quando o governo de Theodore Roosevelt “toma o Panamá”, durante o governo conservador do decrépito M. M. Marroquín, amputando do corpo colombiano esta província para cumprir sua promessa imperial, e que para maior infâmia paga US$ 25 milhões em cômodas cotas de US$ 5 milhões, as quais chegam a Bogotá em 1922 [durante o governo conservador de Jorge Holguín, o avô da atual chanceler] e se inicia a avalanche da dança dos milhões com seu conto da prosperidade ao endividamento do desenvolvimento capitalista moderno, e que leva à terceira data da infâmia.
- 6 de dezembro de 1928, o massacre das bananeiras, durante o governo conservador do advogado de várias companhias estadunidenses Abadía Méndez, quando o general Cortés Vargas, a mando do gerente da “Yunai” [United Fruit Company] Mr. Thomas Bradshaw, fuzila a mais de três mil [3.000] trabalhadores “bananeiros”. Esta realidade romanceada é fácil de ser lida em Cem anos de solidão, livro desfrutado especialmente pelo ex-presidente estadunidense Bill Clinton, grande amigo do povo colombiano.
Denunciado esta data, quando “a oligarquia que tem o joelho trêmulo em terra ante o amo ianque e empresta a metralhadora homicida para os filhos da pátria”, Jorge Eliécer Gaitán inicia seu caminho como formidável dirigente popular que o levaria à tumba e à quarta data da infâmia.
- 9 de abril de 1948, hoje faz 67 anos, quando o governo ultraconservador antioquenho Mariano Ospina Pérez, em cumprimento do mandado anticomunista da guerra fria imposto pelo governo dos EUA, agentes estadunidenses [cujos nomes são RESERVA nos arquivos oficiais dos EUA] e detetives colombianos executam a J. E. Gaitán em Bogotá; se desencadeia a ira popular do bogotazo e se oficializa a violência sectária contra os liberais noveabrilenhos e comunistas, que conduz à quinta data da infâmia.
- 18 de maio de 1964, sob o governo conservador do putanheiro cacique caucano Guillermo León Valencia; quando se executa o Plan LASO [Latin American Security Operation] e se estrutura formalmente o mencionado Bloco de Poder Contra Insurgente Dominante [BPCID] e 16.000 soldados colombianos, aerotransportados em helicópteros estadunidenses, sob a direção estratégica de oficiais estadunidenses, e o comando direto de tenentes “coreanos” do exército colombiano, bombardeiam e tomam militarmente a aldeia de Marquetalia, com aviões estadunidenses e bombas estadunidenses de napalm estadunidense, e onde [para maior infâmia] só estavam 48 campesinos comunistas com suas famílias. Se inaugura assim a guerra suja contra insurgente que tornará realidade a sexta data da infâmia.
- 11 de outubro de 1987, sob o governo do amnésico Liberal Virgilio Barco, quando agentes do Bloco de Poder Contra Insurgente Dominante [BPCID] executam ao candidato presidencial da União Patriótica Jaime Pardo Leal por suas críticas à aliança contra insurgente do exército oficial com narcotraficantes e paramilitares, e se “formaliza ou oficializa” o terrível genocídio de 5.000 quadros da União Patriótica, denominado no jargão militarista imperante de “Plan Baile Rojo” [Plano Baile Vermelho].
Lapidário: Relembrar e comemorar permanentemente estas seis datas da infame história colombiana, que por falta de tempo o mestre Eduardo Galeano não conseguiu incluir em seu último volume das Memórias do Fogo, é a melhor maneira de mantê-lo presente e combatendo, como a Ele agradava ser e estar.
* Conceito ampliado no capítulo 4 [páginas 219-268] do livro de Vilma Liliana Franco, Orden contrainsurgente y dominación. Instituto Popular de Capacitación. Medellín, 2009.
Fonte: imagem Confidencialcolombia.com
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Equipe ANNCOL - Brasil
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