As FARC-EP recebemos com
enorme e sincera dor a notícia da morte de Eduardo Galeano,
revolucionário, escritor e intelectual da talha da Nossa
América e universal.
A partida para a
imortalidade do pensador latino-americanista por excelência,
referente fundamental dos povos do mundo na busca da utopia
justiceira, adquire as dimensões de tragédia e moveria às lágrimas
se não fosse pela forma em que nos cobre de alentos sua inestimável
contribuição para a causa da dignidade dos invisíveis e
marginalizados do planeta inteiro. Pensar em seu gênio criador
significa perseverar em em sonho, que é também o nosso e o de todos
os seres humanos que entendem de fraternidade e solidariedade,
independentemente de fronteiras.
Ninguém em nosso
continente que tenha lido "As Veias Abertas da América Latina"
poderia continuar vivendo em paz com sua consciência sem trabalhar
de algum modo pela reivindicação dos indígenas, das negritudes e
das massas empobrecidas deste chamado Novo Mundo. Galeano foi odiado
por todos os poderes do capital, da mesma forma que pelas mentes
miseráveis de quem o combate por um punhado de moedas. Mas foi
aplaudido, admirado e amado pelos humildes de toda a orbe, que sofrem
sem clemência as consequência de sua avarícia.
Bastaria ler as páginas
de qualquer uma de suas inumeráveis obras ou atender à sábia
lógica de suas palavras carregadas de ironia para entender de que
lado se achava sua brilhante inteligência. Em uma ordem mundial
construída para o benefício exclusivo dos saqueadores, exploradores
e violentos, seu valoroso testemunho sobre a verdadeira realidade
suportada pelas desprotegidas maiorias da humanidade, pôs na ordem
do dia a urgência de colocar essa ordem de pernas pro ar através da
maior e generosa mobilização dos povos contra o capital que os faz
sangrar. Somente isso basta para situá-lo entre as mentes mais
lúcidas da história.
Galeano, que jamais
promoveu o ódio, não desperdiçou um instante para desmascarar a
vileza dos amos, dos latifundiários, dos senhores feudais, dos
empresários, dos banqueiros, dos governantes, dos políticos, dos
impérios, dos padres e profetas de toda espécie, definidos como
honráveis e respeitáveis pela historiografia oficial. Nem para
revelar a bondade e a pureza refugiadas no coração dos escravos,
dos servos, dos camponeses, dos operários, dos devedores
perseguidos, dos reprimidos, das massas invisíveis, dos povos
subjugados, dos fieis enganados pela fé. Nenhuma atitude é mais
justa do que estudar com atenção seus livros, acompanhar com
cuidadosa dedicação seus vídeos, imitar sua atitude comprometida,
difundir sem descanso seu pensamento.
Recordamos dele com
carinho nos tempos da queda do socialismo soviético, quando os
ideólogos imperialistas e burgueses proclamaram o fim da história e
a apoteose do mercado, replicados universalmente pelos grandes meios
de comunicação. Foi então que publicou sua nota desenhando a
ficção de uma criança perdida, com a qual respondeu o discurso
globalizador com um verdadeiro canto à persistência e à luta.
Obrigado Eduardo por
pensar assim, por nos ajudar assim, por alimentar desse modo a
esperança da espécie humana.
SECRETARIADO DO ESTADO
MAIOR CENTRAL DAS FARC-EP
Montanhas da
Colômbia, abril de 2015.
--
Equipe ANNCOL - Brasil
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